Bom Ano!
Saturday, December 30, 2006
Monday, December 25, 2006
Little Drummer Boy
Come they told me, pa rum pum pum pum
A new born King to see, pa rum pum pum pum
Our finest gifts we bring, pa rum pum pum pum
To lay before the King, pa rum pum pum pum,
rum pum pum pum, rum pum pum pum
[played by David Fonseca x 10]
Tuesday, December 19, 2006
The 19/12 Commission Report
"Chegado ao local, pelas 22h05, verifiquei que já aí se encontravam 3 veículos policiais e 3 veículos do R.S.B., cujas tripulações, procediam à sinalização e orientação do trânsito e limpeza do pavimento, respectivamente. Os condutores dos veículos nºs 1 e 2 e, ainda passageira deste último, já haviam sido conduzidas ao Hospital de Santa Maria, onde deram entrada sob os processos nºs (...), respectivamente. Os veículos estavam parados, na posição em que se imobilizaram após os embates. O nº 1 estava no início do acesso que liga o Eixo Norte / Sul, capotado, com o tejadilho apoiado no pavimento, com a frente voltada a Norte, ostentando danos materiais por todo, com maior incidência na frente. O nº 2 estava posicionado, na via de trânsito da esquerda, da Avenida Lusíada, em posição transversal, com a frente voltada a Norte, no qual eram visíveis danos materiais na lateral direita mais sobre a retaguarda e, ambas as rodas traseiras. Junto a este veículo e para a retaguarda era visível uma mancha de combustível, dele proveniente e, 5.50 metros de rastos de derrapagem, efectuada pelo pneumático da retaguarda do lado direito. (...) No ilhéu direccional existente no referido acesso encontrava-se caído, por ter sido arrancado, o sinal luminoso que aí se encontrava colocado."
[relatório de acidente de viação a 19/12/2005 - PSP Lisboa - 3ª S.A./DT]
Foi há um ano atrás. A esta hora, mais coisa menos coisa, travava eu a fundo o veículo nº 2 que "devido ao embate sofrido foi projectado para a frente e rodopiou sobre si próprio". Atrás de mim, um carro em "marcha desgovernada alterou de imediato a trajectória para a direita, subiu o ilhéu direccional, derrubando o sinal luminoso, embateu com a frente no veículo nº 3, capotou e finalmente imobilizou-se". Parados no semáforo, tínhamos acabado de decidir ir ao cinema ver o King Kong. Queríamos acção e efeitos especiais...
Um ano depois, recebo de Itália esta mensagem da "passageira do veículo nº 2":
Do you know what happened? Someone else hit my car again... I was at the traffic light. Strange coincidence, it was one year ago!
Forse siamo invisibili, M.?
Saturday, December 16, 2006
A loja de café
"Então este fim de semana vai lá acima à terra?" Vou pois, que o café não é para mim. Levo-o num saco de papel, ainda em grão. Um quilo, que a balança antiga do sr. Salvador assegura ter mais cem gramas que o devido. Afinal de contas, já sou um cliente da casa. "Boas tardes! Então ainda não vieram buscar os sacos com as nozes?", mete conversa uma velhinha que entra sem eu dar conta, de chapéu na cabeça e carrinho de mercearia atrás. "Oh, ainda aqui estão e vão estar muito tempo!" responde-lhe outro cliente ainda mais velho que ela, sentado em cima de um dos sacos. Mais do que uma casa de chás e cafés, a loja do sr. Salvador é um local de encontro, um refúgio dos tempos modernos que invadiram a Lisboa destas pessoas. Dentro daquele espaço que cheira a anis, café, ervas aromáticas e bolachas em pacote o tempo parou, não acompanhou o que se passou lá fora na rua. Os preços estão todos escritos à mão, o nome da loja desenhado a giz num quadro. Cada cliente é atendido no tempo que dura a conversa, um de cada vez. Um mundo que já não existe. "Olhe, isto hoje está complicado é para os jovens!" atira-me de rompante a velhinha. "Estão tramados vocês, que as raparigas hoje não são o que eram no meu tempo!" Encolhe os ombros o sr. Salvador, abanando a cabeça ao mesmo tempo "não lhe ligue, não lhe ligue...". A resposta não tarda: "Ó senhor Salvador, olhe que já enterrei seis maridos!" Seis, faz-me ela sinal com os dedos, a mão esquerda aberta, o indicador esticado sem deixar de agarrar a bengala "...e você ainda vai ser o sétimo!" O que está sentado em cima das nozes ri-se, diz-me que sim com a cabeça, que é tudo verdade. Entra a correr uma rapariga, nota-se que não é de cá, pergunta com um sotaque francês se há multibanco. Ficam todos a olhar para ela, de onde virá a criatura, que quererá ela? Multibanco? Sou eu quem responde que "não, aqui não há multibanco". Vai-se embora, o sr. Salvador ainda fica a olhar desconfiado para a porta. "Isto o tempo está bom é para plantar favas!", recomeça o das nozes...
Friday, November 24, 2006
It's a long way to the top...
... but this is rock and roll!
Just runnin' scared each place we go
So afraid that he might show
Yeah, runnin' scared, what would I do
If he came back and wanted you
Just runnin' scared, feelin' low
Runnin' scared, you love him so
Just runnin' scared, afraid to lose
If he came back which one would you choose
Then all at once he was standing there
So sure of himself, his head in the air
My heart was breaking, which one would it be
You turned around and walked away with me.
[Running scared* - Roy Orbison
David Fonseca ontem à noite na Aula Magna]
* (na única versão que eu conhecia, a de Nick Cave, a música acaba antes assim:
Then you turned around and walked right out on me
Só dei conta quando fui buscar a letra original ao Google. No concerto, claro, ouvi distintamente a versão que conhecia...)
Thursday, November 16, 2006
O rigor orçamental
Não sei como isto não me ocorreu há mais tempo. A solução para os constantes problemas do meu prédio, que tanto tempo faziam perder à Administração (eu próprio) apareceu hoje, inspirada numa ideia já com alguns meses do nosso primeiro ministro. Em nome do défice, do rigor orçamental, enfim, de promessas eleitorais que nunca fiz... acabei de congelar todos os pagamentos feitos pelo Condomínio relativos a compromissos feitos a partir do dia de hoje! Significa isto que concordo com todas as obras, arranjos, ideias disparatadas e mudanças em geral... mas que não pago nenhuma delas para manter equilibradas as contas do condomínio até ao final da minha legislatura. O elevador precisa de um sensor de peso? A porta das traseiras está ferrugenta? Devíamos ter sensores de movimento nas escadas? Não podia estar mais de acordo! Mas o défice... as contas... Não pode ser, só para meados do próximo ano. Ainda por cima depois do choque tecnológico que foi a mudança do sistema de intercomunicadores. A senhora que limpa as escadas percebeu logo a ideia: "Ah pois, isto sem dinheiro não se vai a lado nenhum! Então e porque é que não aumenta o que as pessoas pagam por mês?" Expliquei-lhe que não era com um aumento da carga fiscal que a coisa ia ao sítio... que a solução era mesmo cortar na despesa, para não sufocar ainda mais as famílias. E ia continuar a falar não fosse ela cortar-me a palavra: "Ai credo, parece um daqueles ministros! Você é que sabe, pronto... faça lá o que quiser."
Parece-me que agora sim, vou ter sossego...
Parece-me que agora sim, vou ter sossego...
Tuesday, November 14, 2006
Enuncia cinco manias tuas, hábitos muito pessoais que te diferenciem do comum dos mortais
Pergunta-me desta vez a rena lá na Finlândia, a mim e a mais quatro vítimas deste desafio. Há aqui um problema, no entanto, porque não tenho a certeza de ter algo tão pessoal que me diferencie do comum dos mortais. "Eu sou os outros, qualquer homem é todos os homens" já Borges dizia. Não devo ser o único, por isso, a ter por exemplo estas cinco manias...
1. Sair do carro, trancar o carro, andar quatro ou cinco metros e parar logo de seguida para perguntar a quem me acompanha: "Eu fechei o carro?" Quem já se habituou responde às vezes que sim mesmo antes de eu perguntar. Quando estou sozinho hesito à mesma... mas raramente volto atrás. Nunca deixei o carro aberto até hoje.
2. Ler o jornal ao contrário, da última página para a primeira. Sempre. Um hábito que vem de ler o Público quase todos os dias quando andava na universidade. O Público começava sempre no Calvin & Hobbes.
3. Abrir um jogo de snooker com a bola branca colocada o mais à esquerda possível na meia lua, em vez de ser no centro. Uma mania que deve vir dos tempos de adolescente no salão de jogos de um centro comercial em Leiria, ou talvez uma contínua tentativa de repetir uma abertura memorável que entretanto esqueci...
4. Ter a mesa de cabeceira e a estante da cama cheia de livros que vou lendo ao mesmo tempo, ao longo de meses. Na realidade apenas um deles é lido regularmente e substituído depois por outro. Os restantes estão ali para serem lidos de vez em quando, como músicas que se ouvem consoante o estado de espírito.
5. Adormecer no avião... às vezes mesmo antes de ele descolar. Aliás, adormecer mal me sento na cadeira do avião. Também adormeço em comboios e autocarros mas nunca tão depressa como num avião. Confio sempre na turbulência que antecede a refeição (que os pilotos normalmente simulam, para manter toda a gente sentada enquanto é servida a comida) para acordar a tempo de comer qualquer coisa...
E pronto. Falta apenas "reproduzir o regulamento" do desafio aqui no blog e lançar o repto a mais cinco bloggers, mas infelizmente... na minha lista de manias está também um hábito que não aparece de certeza em nenhuma das listas que antecederam a minha: o de quebrar correntes na internet.
Thursday, November 09, 2006
A praga
Sair do meu prédio é uma coisa complicada. Entrar é relativamente mais fácil, porque normalmente passo uma primeira vez de carro em frente à entrada e consigo ver se há perigo de emboscada ou não. Mas quando saio... quando saio só posso contar com a sorte. Hoje tive azar. "Olhe, ainda bem que o vejo!" atira logo de rajada enquanto se coloca entre mim e a porta. Não adianta dizer que estou atrasado, que tenho de ir trabalhar, nada funciona. "Preciso de falar consigo sobre um problema lá em minha casa". O problema pode ser qualquer coisa, sendo certo que há perigo de morte se não for resolvido de imediato. Um cheiro estranho, um tapete fora do sítio, uma lâmpada que se fundiu, qualquer coisa. Com as chuvadas recentes pensei logo em infiltrações, inundações, um cataclismo de proporções bíblicas. Enganei-me. Enfim, enganei-me no problema, não nas proporções bíblicas. "Tenho uma praga de insectos lá em casa! Bichos assim pequenos, sem asas, está a ver? É horrível!" Mais uma hecatombe para a lista. Seria letal? "É que eu sou alérgica a esses bichos todos! Ainda morro, eu qualquer dia ainda morro!" Era letal, claro. "Vou chamar a protecção civil, vou chamar a direcção regional de saúde, inspectores da Câmara, tudo! Sabe que a vizinha ao meu lado tem mais de vinte gatos em casa? É daí que vêm os bichos, de certeza!" A ideia de ter a protecção civil e a direcção regional de saúde no prédio agradava-me. Era pelo menos um dia de descanso para mim. Mas ainda assim, estava curioso para saber que insectos seriam. "Não, não são baratas. São pequeninos, assim com asas, mas não voam..." E quantos eram? "Olhe, ainda no outro dia vi um e ia tendo um ataque!" Um? Só tinha visto um? "Nesse dia foi um, mas já tinha visto outro na escadas, apanhei um susto quando ia a sair de casa!" E a vizinha do lado, também tinha visto algum desses bicharocos? "Não sei, ainda não perguntei. Queria falar consigo antes de chamar alguém aqui ao prédio..."
Wednesday, October 25, 2006
Wednesday, October 18, 2006
Monday, October 16, 2006
Now Heaven has denied us its kingdom...
Gone are the days of rainbows
Gone are the nights of swinging from the stars
For the sea will swallow up the mountains
And the sky will throw thunder-bolts and sparks
Straight at you...
[Lisboa vista da minha janela, ao som de Nick Cave...]
Saturday, October 14, 2006
"Ouça, eu só escrevi umas histórias..."
Katurian: "Vai ficar tudo bem? Como podes tu dizer que vai ficar tudo bem? Não vês o que fizeste? Não percebes o que nos vai acontecer daqui a uma hora? Como podes dizer isso, que vai ficar tudo bem?"
Michal: "Eu... Eu sei que não vai, Katurian. M... mas é o que se costuma dizer n... nestas situações, não é?"
@Teatro Maria Matos (só até amanhã...)
Monday, October 09, 2006
Wednesday, October 04, 2006
Back and Forth
What's it like? To be back?
You see things in life
And you'd be surprised of what you see
Life, your whole life, is changes
You go through changes in your life
One second you've got it made
Next second you're down in the dumps
And it goes back and forth
And back and forth, you know?
[Unkle - Back and Forth]
You see things in life
And you'd be surprised of what you see
Life, your whole life, is changes
You go through changes in your life
One second you've got it made
Next second you're down in the dumps
And it goes back and forth
And back and forth, you know?
[Unkle - Back and Forth]
Tuesday, October 03, 2006
Cold Spring Harbor Lab
"The other side of the East River, that's Long Island. The burrough of Queens on the left, Brooklyn to the right. That's the Brooklyn Bridge right there, see? But if you say you're from Long Island, that means you come far away from New York City, man!". Cold Spring Harbor, a razão da minha deslocação ao outro lado do Atlântico, fica mesmo "far away from New York City". O taxista que trouxe alguns dos meus colegas resumiu tudo assim: "It's like a toy place, you know? They work hard in there, don't get me wrong! But it's just like a big toy place, with all those cute houses that are really labs inside." Um sítio feito para crianças crescidas portanto, curiosas com o que se passa dentro das células. Os jardins estão ornamentados com duplas hélices, ribossomas, estruturas de proteínas. Até os carros têm matrículas de brincar: DNA, Linux. Cold Spring Harbor é totalmente financiado por donativos. Doações de várias dezenas ou centenas de milhar de dólares, que valem depois um quadro do patrono no laboratório, ou no grande auditório. Na praia, a poucos metros de tudo isto, encontrámos trilobites, animais que julgávamos já estarem extintos. As carapaças pareciam plástico, de tão frágeis que eram. Sítio invulgar, de facto...
Sunday, October 01, 2006
Chinatown
"- Ahh... battery? Four dolla ninety nine!
- Listen, I just saw a pack of AA batteries in a store across the street for three fifty.
- Four dolla! These better! These last loong time!
- The other ones were lithium...
- Ahh... four dolla for two pack. Two! Four dolla!"
Acabei por comprar uma máquina nova na B&H, em vez de pilhas para a máquina que já tinha...
Little Italy
[The Feast of San Gennaro]
"Can you fool the weight guesser? 2$ ladies and gentleman, two dollars!"
"World's smallest woman ALIVE! 29 tiny inches! You talk to her she talks to you!"
"World's smallest horse! Smaller than a dog! 10 inches at birth, now fully grown!"
e o meu preferido:
"Angel snake girl. Snake child born! ...still alive! With the body of a snake. Totally awesome!"
Um dólar. Um estrado de madeira, apoiado em quatro pernas como se fosse uma mesa. Um buraco de terra no meio, a cabeça de uma rapariga nele enterrada até ao pescoço. Uma pele de cobra pintada a spray (alguns calhaus ainda tinham salpicos de tinta) rodeando tudo. Debaixo do estrado, um espelho. Inclinado a 45 graus, para dar a ideia de que não há nada ali debaixo. Que a rapariga é só aquela cabeça e a pele de cobra. "It's gotta be fake! C'mon man!". "I dunno. D'you think it's a mirror? I don't see no godamn mirror! Whadda you know? She's alive, look at dat!". "Looks like a mutant or somethin'!".
Saturday, September 30, 2006
White light means go!
O semáforo para os peões tem um homenzinho branco e uma mão vermelha. Atravessava a quinta avenida, como estava calminho e não havia muita gente resolvi filmar um bocado. Parei porque me pareceu ver um prédio torto ao fundo, do lado esquerdo da avenida. Depois tive de correr porque o homenzinho branco desapareceu e os taxis aqui são muito maiores.
Pay the workers!
Manifestação de trabalhadores com salários em atraso, perto do Lincoln Center. Cantavam e dançavam atrás das barreiras da polícia, algumas pessoas que passavam juntavam-se a eles. Fiquei sem bateria na máquina para gravar mais do que isto, é pena. Ficou tudo muito mais animado logo a seguir...
Central Park
Início de tarde em Central Park. O cãozito que aparece à minha direita, a cheirar e a esgravatar a relva, é o Bernie. Criatura simpática, queria-me oferecer um pau que o dono atirou para ele ir buscar. Ou então era um bocado míope. Os violinos é que não tocaram mais, que eu cheguei já no final.
Friday, September 29, 2006
"This terminal is on alert level 2"
Por todo o lado se vêem anúncios à polícia de Nova Iorque. "Join New York's finest. It's more than a job. It's a front row ticket to the best show on Earth!" A minha mochila nunca entrou nas maiores lojas sem passar por um detector. No MoMA tive mesmo de andar com o portátil na mão. Não podia entrar com a mochila, mas também não podia lá deixar o computador. No terminal do Staten Island Ferry o nível de alerta 2 avisa que podemos ser revistados a qualquer momento. Qualquer recusa implica imediata expulsão da zona. No metro os polícias vêem ter connosco, sempre simpáticos: "How ya doin' today, sir?". Procuram olhares nervosos, olham para o que faço com as mãos. Na 7th Avenue aparecem dezenas de carros de repente, as sirenes ligadas, o trânsito fica cortado, toda a gente continua a sua vida. Não se passa nada, é só uma demonstração de que estão ali. Preparados. Nova Iorque está vacinada, o sistema imunitário em alerta constante, por todo o lado se vêem os seus anticorpos. "Can I help you sir? Do you have any ID?" perguntam a um turista indiano, ou paquistanês, que consultava o seu mapa perto das Nações Unidas. Eu não devo claramente ter um ar suspeito. "Good morning sir. Do you work here?" Se calhar até tinha conseguido entrar...
The city that never sleeps
New York tem pouco mais de 9 milhões de habitantes. Falam-se cerca de 80 idiomas diferentes, o espanhol é a língua de quem trabalha nos supermercados, nos restaurantes, de quem anda a varrer as ruas à noite. O inglês parece ser apenas uma língua em que todos se conseguem entender. Todos são mesmo todos. O planeta inteiro vive em Nova Iorque, sentado nas escadas de um restaurante em Chinatown a comer arroz, ao volante de um táxi com um turbante, a vender relógios e máquinas fotográficas quando não é Sabbath. Atravessar Times Square é dar a volta ao mundo, rodeado de neons que são obrigatórios por lei. Qualquer um pode ser nova-iorquino. É como se todos o fôssemos. Na 6th avenue queriam entregar-me um boletim de voto para as eleições primárias dos Democratas. "I'm not american" disse eu. "I do not vote here" tive de repetir. Todos estão ali com o mesmo objectivo. "If you can make it here, you can make it anywhere". Não é uma selva. Se calhar é a percepção do individualismo que leva as pessoas a serem mais prestáveis, mais humanas aqui do que em qualquer outro lado. "How you doin' chief?" perguntavam-me no metro. "96th street over there, 95th street down here" indicavam-me sem eu ter pedido, apenas porque parei a olhar para um lado e para o outro quando saí do metro. É difícil sentirmo-nos estranhos. Ao início fazia-me impressão o cheiro, muito intenso. A açúcar, principalmente. Depois habituei-me. A cidade é uma feira enorme, nunca dorme. E não se pode propriamente dizer que se estava à espera do que aparece em cada esquina. O mundo inteiro, ali concentrado...
"Your first time here? What took you so long? Welcome to New York, chief!"
Thursday, September 28, 2006
Mannahatta
"A ilha". Comprada aos índios Lenape em 6 de Maio de 1626, por 24$ de quinquilharias. Era um sítio "cheio de mosquitos e muito rochoso", uma "propriedade de pouco valor". Os índios, de resto, não pareciam entender o conceito de propriedade. Foi preciso construir um muro, na rua que hoje se chama Wall Street, para os manter afastados...
Wednesday, September 27, 2006
Tuesday, September 26, 2006
A bola
"- Hey! Did you see the game? What was the score?
(quatro ingleses sentados a comer big Mac's, três deles com camisolas do Manchester)
- Man United won! One nill, mate!
- Oh... Ok, thanks. I'm a Benfica supporter.
- You are? Well, sorry mate...
- It's ok, we beat you guys last time.
- No you didn't. We won the home game!
- I know, and we won our home game.
- Yeah, only Liverpool couldn't win you guys. Right Paul?
(O Paul era o único que não tinha a camisola do Manchester)
- Come on Paul! What was the score with Benfica?
(começam os três a rir-se.)
- Benfica's my second team, man! Second next to Man U! Benfica, Benfica, Benficaaaaa!
(o Paul levanta-se e vem-me cumprimentar)
- Cheers mate. You deserved it last year. Congratulations.
[no McDonald's de Times Square]
(quatro ingleses sentados a comer big Mac's, três deles com camisolas do Manchester)
- Man United won! One nill, mate!
- Oh... Ok, thanks. I'm a Benfica supporter.
- You are? Well, sorry mate...
- It's ok, we beat you guys last time.
- No you didn't. We won the home game!
- I know, and we won our home game.
- Yeah, only Liverpool couldn't win you guys. Right Paul?
(O Paul era o único que não tinha a camisola do Manchester)
- Come on Paul! What was the score with Benfica?
(começam os três a rir-se.)
- Benfica's my second team, man! Second next to Man U! Benfica, Benfica, Benficaaaaa!
(o Paul levanta-se e vem-me cumprimentar)
- Cheers mate. You deserved it last year. Congratulations.
[no McDonald's de Times Square]
No more soup for you!
Soup Kitchen International (259-A West 55th Street)
(the original Soup Nazi, available "for sale or lease until December of 2019")
Monday, September 25, 2006
Ground zero
"I was here for 5 days. We stayed in St. Paul's Chapel, over there. We were helping the rescue workers, supporting them, giving them food, and new boots. Cause the boots would melt from all the heat, you know? The pile of rubble was 12 stories high, and it was like matches all piled up, ready to ignite, or break. The fire under that pile burned for days and days. What I will never forget is the smell of it. I mean, it was really a stench! Cause there were corpses there, all that people that died, you know? It was really bad..."
- F., 70 e poucos anos, no seu primeiro regresso ao ground zero, cinco anos e uma semana depois de lá ter estado pela última vez
Sunday, September 24, 2006
Rinoblog's Overheard in NY (C)
Guy in a uniform checking tickets: "See there, you girls can wear stuff like that anytime..."
Girl sitting in the train: "What, these? Man can wear it too..."
Guy in a uniform checking tickets: "Naa... no way. It would be like... it would be like a guy wearin' a pink shirt, you know what I mean?"
Girl sitting in the train: "But I like a guy in a pink shirt..."
Guy in a uniform checking tickets: "Well, yeah... I mean, not that there's anything wrong about it, right? Ma friend Tony, fer instance. Tony could wear a pink shirt if he felt like it. Than a guy walking by would say somethin' to him, like... you know? Man, this guy could even have two or three friends walking with him... Ma friend Tony would take this guy on the floor, together with his two or three buddies, I mean like in no time! Cos Tony can wear whatever he likes, see?"
AirTrain: Newark Liberty Airport -> NY Penn Station
Girl sitting in the train: "What, these? Man can wear it too..."
Guy in a uniform checking tickets: "Naa... no way. It would be like... it would be like a guy wearin' a pink shirt, you know what I mean?"
Girl sitting in the train: "But I like a guy in a pink shirt..."
Guy in a uniform checking tickets: "Well, yeah... I mean, not that there's anything wrong about it, right? Ma friend Tony, fer instance. Tony could wear a pink shirt if he felt like it. Than a guy walking by would say somethin' to him, like... you know? Man, this guy could even have two or three friends walking with him... Ma friend Tony would take this guy on the floor, together with his two or three buddies, I mean like in no time! Cos Tony can wear whatever he likes, see?"
AirTrain: Newark Liberty Airport -> NY Penn Station
Onboard
Interromperam eles o meu zapping entre os X-Men 3, o Código da Vinci e o mapa com a localização do avião, temperatura exterior e velocidade no solo para anunciar isto:
"Ladies and gentlemen, we would like to inform you that we will start our onboard sales in a few minutes. Please check the onboard British Airways catalog for more information on the available products..."
Até aqui tudo normal...
"We would like to remind you that, due to security reasons, any liquid product you buy, such as perfums, cosmetics or beverages will be destroyed upon arrival at the US, as no such products are allowed in american soil coming from abroad".
O carrinho com os perfumes passou à mesma, claro. Na BA as regras são para levar a sério...
"Ladies and gentlemen, we would like to inform you that we will start our onboard sales in a few minutes. Please check the onboard British Airways catalog for more information on the available products..."
Até aqui tudo normal...
"We would like to remind you that, due to security reasons, any liquid product you buy, such as perfums, cosmetics or beverages will be destroyed upon arrival at the US, as no such products are allowed in american soil coming from abroad".
O carrinho com os perfumes passou à mesma, claro. Na BA as regras são para levar a sério...
Tuesday, September 19, 2006
Monday, August 21, 2006
Correio dos Leitores II - Funeral?
"Ele há túmulos que se mexem mais do que o teu blog..."
(o mesmo leitor identificado, a mesma localização incerta)
(o mesmo leitor identificado, a mesma localização incerta)
Tuesday, June 27, 2006
The aftermatch
Portugal 1 - 0 Holanda
"Hi Jose,
I am still recovering from the Holland-Portugal soccer-match. You are lucky that I sent the plasmids before the game..."
- J., Amsterdam (colega de um laboratório holandês que me enviou o DNA de umas proteínas fluorescentes pelo correio, felizmente dois dias antes do jogo...)
"Hi Jose,
I am still recovering from the Holland-Portugal soccer-match. You are lucky that I sent the plasmids before the game..."
- J., Amsterdam (colega de um laboratório holandês que me enviou o DNA de umas proteínas fluorescentes pelo correio, felizmente dois dias antes do jogo...)
Thursday, June 22, 2006
Correio dos leitores
"Pronto! Agora é que o teu blog se apagou de vez. Quem tem tempo para um blog, quando a vida decorre a milhares de km/hora??"
(leitor identificado, localização incerta)
Questão pertinente, caro leitor. Constatando com alguma surpresa que não se escreve nada por aqui há quase um mês, o que de facto constitui uma clara situação de apagamento, como muito bem apontou, resolvi verificar pessoalmente o que se passa com o blog. O que descobri não foi muito animador. Aparentemente (e contrariando as expectativas iniciais) o blog não se escreve sozinho. Não tem grande vida própria e a iniciativa demonstrada é reduzida. No fundo limita-se a contar as pessoas que passam por aqui, perguntando às vezes de onde vêm. Uma vez por outra marca um pontinho vermelho no mapa-mundo ali em baixo. E é tudo. Ora o autor, como diz e muito bem, tem andado tudo menos parado. Há aqui um claro paradoxo a merecer reflexão. O melhor será mesmo olhar para o blog como se fosse um espelho, sendo tudo o que ele mostra uma imagem invertida da realidade. E aguardar que o autor se aborreça ou desacelere um bocadinho para o blog ganhar novamente velocidade...
(leitor identificado, localização incerta)
Questão pertinente, caro leitor. Constatando com alguma surpresa que não se escreve nada por aqui há quase um mês, o que de facto constitui uma clara situação de apagamento, como muito bem apontou, resolvi verificar pessoalmente o que se passa com o blog. O que descobri não foi muito animador. Aparentemente (e contrariando as expectativas iniciais) o blog não se escreve sozinho. Não tem grande vida própria e a iniciativa demonstrada é reduzida. No fundo limita-se a contar as pessoas que passam por aqui, perguntando às vezes de onde vêm. Uma vez por outra marca um pontinho vermelho no mapa-mundo ali em baixo. E é tudo. Ora o autor, como diz e muito bem, tem andado tudo menos parado. Há aqui um claro paradoxo a merecer reflexão. O melhor será mesmo olhar para o blog como se fosse um espelho, sendo tudo o que ele mostra uma imagem invertida da realidade. E aguardar que o autor se aborreça ou desacelere um bocadinho para o blog ganhar novamente velocidade...
Friday, May 26, 2006
Another one for the files...
"In closing this report it may truly be said that no more baffling problem has ever been presented for investigation." - Tudor IV board of investigation report [1948]
Reza a lenda que já em 1492 a bússola ficou desnorteada, os três navios momentaneamente perdidos, e que toda a tripulação viu luzes estranhas no céu quando as naus Nina, Pinta e Santa Maria atravessaram a área hoje conhecida como Triângulo das Bermudas. Mais ou menos a mesma descrição, portanto, que deu à companhia de seguros a rapariga que me abalroou o carro na Avenida Lusíada em Dezembro. Conta ela que vinha na "segunda circular", sem trânsito nenhum, e que de repente só viu luzes no céu (era provavelmente o semáforo que levou à frente depois de ter capotado por cima de mim). Nas folhas do hospital deu-me como culpado, claro. Talvez de placagem, pensei eu. Mas agora começo a desconfiar que talvez haja algum fundo de razão na suspeita dela. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o voo completamente desnorteado dos pombos que, estando parados na estrada, tentavam fugir do carro em movimento. Nunca atropelei nenhum, é certo, muito menos gaivotas, mas por puro acaso. Tentavam sempre fugir voando em zig-zag, como se o carro os atraísse. Senhoras com carrinhos de hipermercado em parques subterrâneos e pessoas transportando qualquer objecto metálico vieram confirmar a minha suspeita: o meu carro deve ser magnético. Em cinco meses, cinco ou seis embates no carro, sempre com ele parado. Raramente houve testemunhas. Uma delas terá apenas visto uma carrinha, "eram para aí 6 da manhã..." que conseguiu acertar apenas no espelho, ganhando curiosamente velocidade com o embate. Hoje, para não variar, no mesmo sítio onde tinha sido batido por um jipe o mês passado, lá estava a amolgadela resultante do impacto de um carro do lado esquerdo por cima da roda. Desta vez o único bilhete no carro era do "astrólogo grande mediúm vidente Professor Souareba" (dotado de dom hereditário). Ao entrar no carro, sinto ainda uma porta a bater do outro lado, o olhar espantado da condutora de uma carrinha. A culpa não era dela, claro... É o carro que parece que atrai tudo o que é metálico... incluindo a magnetite que serve de orientação aos pombos.
Reza a lenda que já em 1492 a bússola ficou desnorteada, os três navios momentaneamente perdidos, e que toda a tripulação viu luzes estranhas no céu quando as naus Nina, Pinta e Santa Maria atravessaram a área hoje conhecida como Triângulo das Bermudas. Mais ou menos a mesma descrição, portanto, que deu à companhia de seguros a rapariga que me abalroou o carro na Avenida Lusíada em Dezembro. Conta ela que vinha na "segunda circular", sem trânsito nenhum, e que de repente só viu luzes no céu (era provavelmente o semáforo que levou à frente depois de ter capotado por cima de mim). Nas folhas do hospital deu-me como culpado, claro. Talvez de placagem, pensei eu. Mas agora começo a desconfiar que talvez haja algum fundo de razão na suspeita dela. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o voo completamente desnorteado dos pombos que, estando parados na estrada, tentavam fugir do carro em movimento. Nunca atropelei nenhum, é certo, muito menos gaivotas, mas por puro acaso. Tentavam sempre fugir voando em zig-zag, como se o carro os atraísse. Senhoras com carrinhos de hipermercado em parques subterrâneos e pessoas transportando qualquer objecto metálico vieram confirmar a minha suspeita: o meu carro deve ser magnético. Em cinco meses, cinco ou seis embates no carro, sempre com ele parado. Raramente houve testemunhas. Uma delas terá apenas visto uma carrinha, "eram para aí 6 da manhã..." que conseguiu acertar apenas no espelho, ganhando curiosamente velocidade com o embate. Hoje, para não variar, no mesmo sítio onde tinha sido batido por um jipe o mês passado, lá estava a amolgadela resultante do impacto de um carro do lado esquerdo por cima da roda. Desta vez o único bilhete no carro era do "astrólogo grande mediúm vidente Professor Souareba" (dotado de dom hereditário). Ao entrar no carro, sinto ainda uma porta a bater do outro lado, o olhar espantado da condutora de uma carrinha. A culpa não era dela, claro... É o carro que parece que atrai tudo o que é metálico... incluindo a magnetite que serve de orientação aos pombos.
Wednesday, May 24, 2006
Thursday, May 11, 2006
"Ora o shô prevaricador incorre numa contra-ordenação grave cuja sanção pode ir da aplicação duma simples coima à cassação do título de condução"
Oitenta e seis dias depois de ter encontrado o meu carro bloqueado por estar ligeiramente estacionado em cima de duas passadeiras, algo que foi considerado uma "manobra perigosa" pelo senhor agente da PSP (apesar de eu lhe ter explicado que não, não foi nada perigoso, tinha até estacionado muito devagar, certificando-me pelos espelhos que não batia em ninguém)... Oitenta e seis dias depois, dizia eu, de pagar a multa e o desbloqueamento no local ao senhor agente que até era benfiquista e que achava que íamos ganhar ao Liverpool daí a quatro dias... Oitenta e seis dias depois, repito, recebo em casa uma notificação para pagar a coima relativa ao "estacionamento na passagem assinalada para a travessia de pe_es". Assim mesmo. Tenho pois, de me deslocar à rua de Santa Marta para resolver duas questões. A primeira é configurar o teclado do computador utilizado pelo senhor guarda para poder escrever "peões" à vontade. A segunda é mostrar-lhe o recibo nº 0021177, que comprova o pagamento da "coima" e que felizmente tenho guardado na sétima pasta da primeira gaveta de um arquivo de madeira que revolucionou a minha papelada. Ah, a organização...
Oitenta e seis dias depois de ter encontrado o meu carro bloqueado por estar ligeiramente estacionado em cima de duas passadeiras, algo que foi considerado uma "manobra perigosa" pelo senhor agente da PSP (apesar de eu lhe ter explicado que não, não foi nada perigoso, tinha até estacionado muito devagar, certificando-me pelos espelhos que não batia em ninguém)... Oitenta e seis dias depois, dizia eu, de pagar a multa e o desbloqueamento no local ao senhor agente que até era benfiquista e que achava que íamos ganhar ao Liverpool daí a quatro dias... Oitenta e seis dias depois, repito, recebo em casa uma notificação para pagar a coima relativa ao "estacionamento na passagem assinalada para a travessia de pe_es". Assim mesmo. Tenho pois, de me deslocar à rua de Santa Marta para resolver duas questões. A primeira é configurar o teclado do computador utilizado pelo senhor guarda para poder escrever "peões" à vontade. A segunda é mostrar-lhe o recibo nº 0021177, que comprova o pagamento da "coima" e que felizmente tenho guardado na sétima pasta da primeira gaveta de um arquivo de madeira que revolucionou a minha papelada. Ah, a organização...
Tuesday, May 02, 2006
Avisos nórdicos
O Manual de Utilizador do computador portátil que comprei há bocadinho num centro comercial em Loures tem, em Apêndice, um Aviso Nórdico (assim mesmo, com uma mão a chamar a atenção e tudo):
ATENçÂO! Há o perigo de explosão se a bateria não for substituída correctamente.
ATENçÂO! Há o perigo de explosão se a bateria não for substituída correctamente.
Thursday, April 20, 2006
"A matança que ocorreu lá, em Lisboa..."
1506 - 2006
"Vi qe em Lixboa se alçaram
Pouo baixo & villãos
Contra os nouos Christãos
Mais de quatro mil matarã
Dos qe ouuerão nas mãos."
No meio de algumas dezenas de pessoas, mais jornalistas, fotógrafos e um rabi, lá encontrei alguém conhecido. Guardava uma vela dentro de um saco de plástico, era a única que tinha lá em casa. Não havia ainda sítio para a colocar. "Fizeram há pouco a oração, o kaddish. Agora não sei o que se segue..." À minha frente, a objectiva de uma máquina fotográfica aproxima-se de um kippah. A foto vai fazer a capa do Público, no dia seguinte. Estamos no Largo de São Domingos. Há precisamente 500 anos atrás, dois irmãos, judeus convertidos à força, eram arrastados do interior da Igreja para o local onde estamos. O rosto de Cristo iluminara-se subitamente no altar e onde todos julgavam ver um milagre, o judeu explicava apenas ter visto o reflexo de um raio de sol. Aqui o espancaram até à morte, a ele e ao irmão que o acudiu. No Rossio, mais ao lado, queimaram depois os corpos mutilados, mais ou menos no sítio onde décadas depois haveriam de arder as fogueiras da Inquisição. Isto foi apenas o início. Incitada por frades dominicanos, a população dirige-se a seguir à Judiaria, perseguindo todos os "da semente de Israel". O que aconteceu nos 3 dias seguintes, a nossa História preferiu esquecer.
"Hũos delles viuos queimarã
Mininos espedaçarão
Fizerão grandes cruezas
Grandes roubos & vilezas
Em todos quantos acharão."
"De entre a multidão surgiram homens armados de espadas e durante três dias mataram quatro mil almas" conta Salomão Ibn Verga, num texto traduzido do original hebraico pelo jornalista Nuno Guerreiro, no seu excelente blog. Foi na Rua da Judiaria, de resto, que li pela primeira vez os testemunhos do massacre. Não fazia a mínima ideia que tal tragédia tinha acontecido. "Eu soube por portas travessas... digamos que percenço ao grupo" conta-me a única pessoa que conheço na praça, que logo a seguir telefona ao filho. "Então, Daniel? Não vens homenagear os teus antepassados?" O Daniel afinal já tinha passado pelo Rossio, mas não tinha encontrado ninguém. Acendem-se agora as primeiras velas, aos pés de uma oliveira. M. tira a sua do saco de plástico. O vento não ajuda muito, mas a vela é larga, não cai facilmente. E lá ficou a arder, apesar do vento, contra o esquecimento.
"Vi qe em Lixboa se alçaram
Pouo baixo & villãos
Contra os nouos Christãos
Mais de quatro mil matarã
Dos qe ouuerão nas mãos."
No meio de algumas dezenas de pessoas, mais jornalistas, fotógrafos e um rabi, lá encontrei alguém conhecido. Guardava uma vela dentro de um saco de plástico, era a única que tinha lá em casa. Não havia ainda sítio para a colocar. "Fizeram há pouco a oração, o kaddish. Agora não sei o que se segue..." À minha frente, a objectiva de uma máquina fotográfica aproxima-se de um kippah. A foto vai fazer a capa do Público, no dia seguinte. Estamos no Largo de São Domingos. Há precisamente 500 anos atrás, dois irmãos, judeus convertidos à força, eram arrastados do interior da Igreja para o local onde estamos. O rosto de Cristo iluminara-se subitamente no altar e onde todos julgavam ver um milagre, o judeu explicava apenas ter visto o reflexo de um raio de sol. Aqui o espancaram até à morte, a ele e ao irmão que o acudiu. No Rossio, mais ao lado, queimaram depois os corpos mutilados, mais ou menos no sítio onde décadas depois haveriam de arder as fogueiras da Inquisição. Isto foi apenas o início. Incitada por frades dominicanos, a população dirige-se a seguir à Judiaria, perseguindo todos os "da semente de Israel". O que aconteceu nos 3 dias seguintes, a nossa História preferiu esquecer.
"Hũos delles viuos queimarã
Mininos espedaçarão
Fizerão grandes cruezas
Grandes roubos & vilezas
Em todos quantos acharão."
"De entre a multidão surgiram homens armados de espadas e durante três dias mataram quatro mil almas" conta Salomão Ibn Verga, num texto traduzido do original hebraico pelo jornalista Nuno Guerreiro, no seu excelente blog. Foi na Rua da Judiaria, de resto, que li pela primeira vez os testemunhos do massacre. Não fazia a mínima ideia que tal tragédia tinha acontecido. "Eu soube por portas travessas... digamos que percenço ao grupo" conta-me a única pessoa que conheço na praça, que logo a seguir telefona ao filho. "Então, Daniel? Não vens homenagear os teus antepassados?" O Daniel afinal já tinha passado pelo Rossio, mas não tinha encontrado ninguém. Acendem-se agora as primeiras velas, aos pés de uma oliveira. M. tira a sua do saco de plástico. O vento não ajuda muito, mas a vela é larga, não cai facilmente. E lá ficou a arder, apesar do vento, contra o esquecimento.
Thursday, April 06, 2006
Jogo? Qual jogo?
"Eu não compreendo como se possa não ser do Benfica. Não entendo isso racionalmente!"
[António Lobo Antunes, na TSF]
Bebia eu a minha Warsteiner a cerca de onze mil metros de altitude quando, lá em baixo, a pouco menos de mil quilómetros de distância, o Beto pontapeava a atmosfera, oferecendo assim a bola de ressalto ao Eto'o que fez com ela o que toda a gente viu, menos eu. Não vai ser fácil para mim perceber o que aconteceu ao meu clube este ano. Estava na Suécia quando se atrasou no campeonato e foi goleado pela União de Leiria, dizem-me que por 3-1. Estava agora no voo 4544 da Lufthansa, quando foi eliminado da Champions. Não percebo. Nos jogos que vi, o Benfica ia claramente ganhar o campeonato e chegar à final da Champions. Já vi as imagens na televisão, claro (do Leiria não cheguei a ver, para mim esse jogo é um rumor). Mas não é a mesma coisa. As imagens em diferido não me convencem de nada, não vivi o jogo. Entretido a ler o Welt Kompakt, ou melhor, à procura do resultado dos jogos da Champions do dia anterior no meio do Welt Kompakt, nem suspeito que o Simão falha só com Valdés pela frente. Uma pequena turbulência ao sobrevoar Espanha, apenas isso, mas sabia lá eu que era obra do pontapé do Beto. Ao aterrar espreitei pela janela e desconfiei logo que a coisa não tinha corrido bem. Não havia foguetes guardados para a época de fogos a rebentar, não havia carros com bandeiras vermelhas na segunda circular, nada... Já em terra, um telefonema para casa desfez o equívoco. O meu e o da senhora portuguesa que viajava ao meu lado (e que começou a bater palmas mal o avião tocou o chão), julgando o tempo todo que eu era alemão. "Ai é português? Ohhh... podíamos ter conversado durante a viagem!" Às vezes somos poupados a certos sofrimentos...
[António Lobo Antunes, na TSF]
Bebia eu a minha Warsteiner a cerca de onze mil metros de altitude quando, lá em baixo, a pouco menos de mil quilómetros de distância, o Beto pontapeava a atmosfera, oferecendo assim a bola de ressalto ao Eto'o que fez com ela o que toda a gente viu, menos eu. Não vai ser fácil para mim perceber o que aconteceu ao meu clube este ano. Estava na Suécia quando se atrasou no campeonato e foi goleado pela União de Leiria, dizem-me que por 3-1. Estava agora no voo 4544 da Lufthansa, quando foi eliminado da Champions. Não percebo. Nos jogos que vi, o Benfica ia claramente ganhar o campeonato e chegar à final da Champions. Já vi as imagens na televisão, claro (do Leiria não cheguei a ver, para mim esse jogo é um rumor). Mas não é a mesma coisa. As imagens em diferido não me convencem de nada, não vivi o jogo. Entretido a ler o Welt Kompakt, ou melhor, à procura do resultado dos jogos da Champions do dia anterior no meio do Welt Kompakt, nem suspeito que o Simão falha só com Valdés pela frente. Uma pequena turbulência ao sobrevoar Espanha, apenas isso, mas sabia lá eu que era obra do pontapé do Beto. Ao aterrar espreitei pela janela e desconfiei logo que a coisa não tinha corrido bem. Não havia foguetes guardados para a época de fogos a rebentar, não havia carros com bandeiras vermelhas na segunda circular, nada... Já em terra, um telefonema para casa desfez o equívoco. O meu e o da senhora portuguesa que viajava ao meu lado (e que começou a bater palmas mal o avião tocou o chão), julgando o tempo todo que eu era alemão. "Ai é português? Ohhh... podíamos ter conversado durante a viagem!" Às vezes somos poupados a certos sofrimentos...
Wednesday, April 05, 2006
Coisas que nunca pensei ouvir na vida*
"- No one's here yet! You arrived too early in the morning, ja?"
*e isto dito hoje de manhã por um alemão que passava no corredor e me encontrou a olhar para uma porta fechada, no primeiro piso da Haus E, da Ludwig-Maximilians-Universität, em Munique.
*e isto dito hoje de manhã por um alemão que passava no corredor e me encontrou a olhar para uma porta fechada, no primeiro piso da Haus E, da Ludwig-Maximilians-Universität, em Munique.
Friday, March 31, 2006
O refém
Anda tudo muito calmo, lá no meu prédio. De início julguei que era bom sinal, que tinha finalmente chegado o tempo de conversações de paz. Até a ETA já renunciou à luta armada, pensei, já era tempo de os meus vizinhos fazerem o mesmo. Enganei-me redondamente. Não se vivem momentos de calma, mas sim de impasse. A situação é tensa e pode explodir a qualquer momento. Tudo por causa de um refém, cuja existência me foi revelada pela ala política da facção A (a ala militar vive mesmo por cima, barricada no único andar que não tem luz de elevador, obviamente para não perturbar a vigilância permanente do patamar). "Está aqui, está aqui, venha ver. Já aqui está há duas semanas!" Lá estava ele. Lavado, bem tratado, todo dobrado em cima de um baú. "De quem é este tapete?", pergunto eu. "De quem acha que é? Caiu de lá de cima há duas semanas, mesmo em cima da minha roupa, acha que o vêm cá buscar?" Dei por mim a engolir em seco. O último tapete-refém capturado à facção B provocou uma espiral de vinganças que acabou no alegado ataque cardíaco de um dos beligerantes. O caso é sério. Perguntei se havia conversações... "Já disse à senhora que faz limpezas aqui à vizinha da frente e que também vai lá acima, para dizer ao outro que tenho aqui o tapete! Agora ele tem de vir cá e tem de pedir desculpa, eu não vou lá acima!" Há negociações, portanto, mas estão num impasse. Está explicado o silêncio que se vive no prédio. Entrego-lhes a carta do seguro, o motivo da minha deslocação três pisos abaixo, e venho-me embora. É sem grande surpresa que reparo no tapete de entrada deles, colocado do lado de dentro do apartamento...
Monday, March 27, 2006
Prognósticos...
"- Eh pá, hoje até sonhei que o Benfica ganhava 1-0 ao Barcelona!
- A sério?
- Sim, mas era o Veloso que marcava. De primeira, olha lá! O Futre subia pela direita, centrava..."
[J, sportinguista, a pouco mais de 24 horas do início do jogo]
- A sério?
- Sim, mas era o Veloso que marcava. De primeira, olha lá! O Futre subia pela direita, centrava..."
[J, sportinguista, a pouco mais de 24 horas do início do jogo]
Thursday, March 23, 2006
O que eu estava a fazer há dez anos atrás?
Pergunta-me a rena lá na Finlândia, a mim e a mais quatro vítimas desta corrente. Ora há dez anos atrás...
Há dez anos atrás, Sábado, 23 de Março de 1996... a esta hora era bem capaz de estar a jogar futebol. Não sei muito bem como combinávamos na altura, que eu não tinha nem telemóvel nem carta de condução (apesar de já andar a ter lições de código num prédio atormentado pelo ruído das obras do túnel que hoje atravesso diariamente, na João XXI), mas de certeza que estava a jogar futebol em Leiria, que o ritual de sábado à tarde é antigo. O Benfica ia receber o Porto no dia seguinte, portanto é muito provável que a esta hora, há dez anos atrás, com o jogo a acabar, eu estivesse a apostar num hat-trick do João Pinto, ele que só acabou por marcar um (ganhámos 2-1). Não devo ter apostado grande quantia. Os Tindersticks iam tocar a Vilar de Mouros e eu já devia andar a poupar dinheiro para o bilhete. Não sabia ainda que eles iriam ser substituídos por uma banda de jazz à última hora. No dia seguinte, Domingo, iria regressar de Expresso a Lisboa, às sete e tal da tarde. Um autocarro cheio de estudantes carregados de malas e sacos com comida. Os de informática eram sempre os que falavam mais alto, não me iriam deixar adormecer. Naquela altura deviam andar todos entusiasmados com a vitória do Deep Blue frente ao Kasparov. Ou com a internet. Há dez anos atrás, a internet era isto. O Expresso ia ter à Casal Ribeiro e eu fazia depois o caminho a pé até Arroios, onde vivia com mais de vinte pessoas (espalhadas por 3 andares de um mítico prédio com muitas histórias na Edith Cavell). Dormia sempre pouco durante a semana, que as noites eram longas e no dia seguinte tinha aulas de coisas como "Análise Matemática IV", "Electromagnetismo" e "Sistemas Digitais" no curso de Física Tecnológica, no Técnico. Ainda assim, e a acreditar numa foto da época, parecia andar bem disposto...
Há dez anos atrás, Sábado, 23 de Março de 1996... a esta hora era bem capaz de estar a jogar futebol. Não sei muito bem como combinávamos na altura, que eu não tinha nem telemóvel nem carta de condução (apesar de já andar a ter lições de código num prédio atormentado pelo ruído das obras do túnel que hoje atravesso diariamente, na João XXI), mas de certeza que estava a jogar futebol em Leiria, que o ritual de sábado à tarde é antigo. O Benfica ia receber o Porto no dia seguinte, portanto é muito provável que a esta hora, há dez anos atrás, com o jogo a acabar, eu estivesse a apostar num hat-trick do João Pinto, ele que só acabou por marcar um (ganhámos 2-1). Não devo ter apostado grande quantia. Os Tindersticks iam tocar a Vilar de Mouros e eu já devia andar a poupar dinheiro para o bilhete. Não sabia ainda que eles iriam ser substituídos por uma banda de jazz à última hora. No dia seguinte, Domingo, iria regressar de Expresso a Lisboa, às sete e tal da tarde. Um autocarro cheio de estudantes carregados de malas e sacos com comida. Os de informática eram sempre os que falavam mais alto, não me iriam deixar adormecer. Naquela altura deviam andar todos entusiasmados com a vitória do Deep Blue frente ao Kasparov. Ou com a internet. Há dez anos atrás, a internet era isto. O Expresso ia ter à Casal Ribeiro e eu fazia depois o caminho a pé até Arroios, onde vivia com mais de vinte pessoas (espalhadas por 3 andares de um mítico prédio com muitas histórias na Edith Cavell). Dormia sempre pouco durante a semana, que as noites eram longas e no dia seguinte tinha aulas de coisas como "Análise Matemática IV", "Electromagnetismo" e "Sistemas Digitais" no curso de Física Tecnológica, no Técnico. Ainda assim, e a acreditar numa foto da época, parecia andar bem disposto...
Thursday, March 09, 2006
Wednesday, March 08, 2006
As histórias da viagem, contadas em três partes pelo min kompis e companheiro de aventuras:
- Sverige och London / Vinter 2006 part I
- Sverige och London / Vinter 2006 part II
- Sverige och London / Vinter 2006 part III
Wednesday, March 01, 2006
Big Neighbour is watching You
O dia começa logo por volta das oito, oito e meia da manhã, com o primeiro assalto à campaínha, obviamente ignorado. Fiz saber um dia à facção A que não valia a pena procurarem-me de manhã porque saía sempre de casa antes das 9h. O resultado não foi bem o esperado. Agora procuram-me à mesma, mas mais cedo. Não pode haver o mínimo sinal de presença em casa. Qualquer distracção, uma luz que se acende, o bater de uma porta... e sou apanhado. Vão tentar mais tarde, por volta da hora de almoço. Se estiver alguém em casa recebo o aviso no lab, por MSN. O assunto é sempre urgente: uma lâmpada que se fundiu ("Eu morro! Eu sem luz qualquer dia caio pelas escadas abaixo e morro!"), uma redoma de vidro que desapareceu ("Deve ter caído! Se me caía em cima eu morria logo ali!"), o elevador que "faz uns barulhos" ("Qualquer dia morremos todos!"), o prédio ao lado que parece estar a apontar um cano na nossa direcção a seis ou sete metros de distância ("O cheiro, os mosquitos! Ainda apanhamos todos febre amarela!"), a porta de entrada que só fecha se as pessoas a empurrarem de facto de volta em vez de a deixarem ficar quieta ("Olhe que as pessoas entram! Ficamos com o prédio cheio de drogados, matam-nos a todos!")... Durante a tarde as visitas repetem-se, de ambas as facções, mesmo que o assunto tenha sido resolvido entretanto ("É que pode acontecer outra vez! Isto está muito perigoso!") Eu que o diga. Perigosíssimo. É preciso chegar a casa bem depois das oito, para jantar tranquilamente. E sair logo a seguir para um cinema. Recebo uns SMS de vez em quando da facção B, a única que conseguiu o número, mas só respondo uma vez por outra. "Esteve outra vez no estrangeiro, foi?" Pois foi...
Friday, February 24, 2006
Como não podia deixar de ser...
...a causa acabou de ser modificada. O MAmEECCMFA é agora o mAMA*
Assino por baixo:
9. José Rino, cientista, Lisboa
*maradona Ao Mundial da Alemanha
Assino por baixo:
9. José Rino, cientista, Lisboa
*maradona Ao Mundial da Alemanha
MAmEECCMFA*
O RinoBlog adere à macrocausa da blogosfera, faz lobby, junta-se ao movimento popular, enfim... assina por baixo o manifesto. Em Junho, queremos o maradona em directo da Alemanha!
*Movimento de Apoio à ida de maradona como Enviado Especial para a Cobertura do Campeonato do Mundo de Futebol na Alemanha
*Movimento de Apoio à ida de maradona como Enviado Especial para a Cobertura do Campeonato do Mundo de Futebol na Alemanha
Thursday, February 23, 2006
a EMEL
Estacionei o carro mesmo em frente ao prédio, de vez em quando vou lá espreitá-lo. O ideal seria apanhar um dos fiscais da EMEL, mas se ele tiver a sorte de escapar, faço o mesmo à senhora que me atendeu hoje na rua dos Douradores e que me disse que eu já não era residente outra vez. "É a lei, isto agora é um novo processo." Já não me conhecem, na EMEL. O residente é o carro antigo, o que está numa sucata à beira do IC2, não eu... Eu tenho de provar outra vez que sou o mesmo, que vivo no mesmo sítio e que só o carro mudou. Nunca aparece um fiscal da EMEL quando é preciso. Aguardava que ele tirasse o caderno do bolso daquele uniforme verde ridículo e ia ter com ele. Depois pedia-lhe que se identificasse. Coisa pouca, apenas queria ver o cartão de trabalhador da EMEL, uma declaração do IRS a comprovar que ele de facto ainda trabalha para quem diz, uma cópia do contrato de trabalho e já agora, uma versão actualizada do regulamento geral das zonas de estacionamento de duração limitada, para ver se a minha rua está de facto lá. Estou-me a esquecer de qualquer coisa, ainda assim. Felizmente deram-me uma lista. Cá está. Cartão de eleitor, é isso. Em alternativa ele também podia ir à junta de freguesia buscar um papelinho que depois tem de ser carimbado por dois comerciantes que o conheçam. "Lembra-se de mim? Costumo vir cá de vez em quando comprar o jornal, ando sempre com este uniforme verde ridículo... não está a ver?" Não sei qual dos arrumadores aqui da zona se tem dado ao trabalho de rebentar com os parquímetros, mas tem toda a minha solidariedade. E uma chave de fendas, se por acaso precisar...
Wednesday, February 22, 2006
The reds
"- Is it far yet? Do you want to share a cab with us?
- It's just over the hill. You can see the lights over there already.
- We're gonna be there in time, you think?
- Maybe not for the eagle flying, but in time for the game, yes.
- There's an eagle flying?
- Yep.
- How come? Is it to keep the pigeons away?
- Nope. See here in the scarf... The eagle in our symbol? We have a real one flying around the crowd before the match.
- This I have to see! Amazing, your Benfica...
[a caminho do Estádio da Luz: Martin, Steve, eu e um outro de sardas e cabelo espetado, todos de cachecol vermelho, mais ou menos no mesmo sítio onde o meu carro foi abalroado há dois meses atrás.]
- It's just over the hill. You can see the lights over there already.
- We're gonna be there in time, you think?
- Maybe not for the eagle flying, but in time for the game, yes.
- There's an eagle flying?
- Yep.
- How come? Is it to keep the pigeons away?
- Nope. See here in the scarf... The eagle in our symbol? We have a real one flying around the crowd before the match.
- This I have to see! Amazing, your Benfica...
[a caminho do Estádio da Luz: Martin, Steve, eu e um outro de sardas e cabelo espetado, todos de cachecol vermelho, mais ou menos no mesmo sítio onde o meu carro foi abalroado há dois meses atrás.]
Wednesday, February 08, 2006
Monday, February 06, 2006
- Adjö
Behrouz é o nosso guia. Diz que sabe perfeitamente onde estão os melhores bares em Södermalm, a parte sul de Estocolmo. É isso, aliás, que pergunta à primeira sueca que encontra na passadeira, à saída da pousada. Ela sorri, desvia-se do seu caminho e leva-nos até Götgatan, puxando o nosso "guia" pelo braço cada vez que ele se aproxima mais da estrada. Os carros não fazem barulho, com a neve, e o vinho português é talvez demasiado forte para um iraniano de 24 anos pouco habituado a beber. Behrouz deixou o negócio de móveis da família em Teerão, emigrou para a Suécia, casou com uma rapariga de olhos azuis e cabelo pintado de vermelho. Na carteira guarda uma fotografia da filha de oito meses, ao lado de um papel com uma morada errada. "Muy preciosa", disse-lhe Rodrigo, um espanhol que não tinha quarto na pousada mas que se lembrava do código de entrada da porta, 7511. Rodrigo não nos quis acompanhar, tinha de apanhar um barco daí a uma hora. Trinta e oito horas depois, já em Londres, o homem que não levou roupa para a viagem porque ia estar tudo em saldos acabaria por seguir o conselho que o espanhol lhe deu, e visitar mais uma loja em Picadilly Circus, de onde sairia com umas dezenas de libras a menos. Mas adianto-me. Götgatan começa agora a ficar um bocado mais inclinada, com o gelo torna-se complicado subir. Não circulam carros nesta rua, mas Behrouz não abdica da sua convicção em ser atropelado. A sueca tem de o desviar de um grupo animado que escorrega rua abaixo em cima de páginas arrancadas a uma lista telefónica abandonada. Estamos no caminho certo, portanto. Estão 15 graus negativos na rua. Behrouz tira o casaco, diz que não tem frio. O vinho aquece-o. Já não vê a filha há algum tempo. Por decisão de um tribunal sueco, só pode estar com ela de dois em dois meses, dois dias seguidos, duas horas por dia. Era para a ter encontrado hoje, mas a ex-mulher não apareceu. Guarda na carteira um papel com a morada errada, no outro bolso o telemóvel que há-de despedaçar contra o chão no dia seguinte, quando der pelo erro. Sentado na recepção da pousada, duas horas antes, partilha connosco a sua história, contada em sueco ao homem que viveu um ano em Hudiksvall e num inglês muito limitado a mim. "This!" (com os dedos a agarrar o cabelo penteado para trás) "Dark hair, Iran. Not Europe. You fine. You Europe. Me? Not Europe. So, no baby..." Fomos buscar uma garrafa de vinho à mala. Portugal é o nome que dão às laranjas no Irão. Behrouz lê os nossos nomes e moradas com dificuldade, está habituado a ler ao contrário, da direita para a esquerda. Fala árabe, curdo, turco, persa e sueco. Tem uma pizzaria em Piteå, 700 km a norte de Estocolmo. Deixámo-lo no bar onde a sueca nos levou, a jogar blackjack, e fomos ainda para Gamla Stan. Quando o voltámos a encontrar no dia seguinte, tinha gasto 3000 coroas num telemóvel novo e em presentes para a filha. Ajudou-nos a levar as malas para o metro. Estava "tutto bêim!", repetia contente...
Behrouz é o nosso guia. Diz que sabe perfeitamente onde estão os melhores bares em Södermalm, a parte sul de Estocolmo. É isso, aliás, que pergunta à primeira sueca que encontra na passadeira, à saída da pousada. Ela sorri, desvia-se do seu caminho e leva-nos até Götgatan, puxando o nosso "guia" pelo braço cada vez que ele se aproxima mais da estrada. Os carros não fazem barulho, com a neve, e o vinho português é talvez demasiado forte para um iraniano de 24 anos pouco habituado a beber. Behrouz deixou o negócio de móveis da família em Teerão, emigrou para a Suécia, casou com uma rapariga de olhos azuis e cabelo pintado de vermelho. Na carteira guarda uma fotografia da filha de oito meses, ao lado de um papel com uma morada errada. "Muy preciosa", disse-lhe Rodrigo, um espanhol que não tinha quarto na pousada mas que se lembrava do código de entrada da porta, 7511. Rodrigo não nos quis acompanhar, tinha de apanhar um barco daí a uma hora. Trinta e oito horas depois, já em Londres, o homem que não levou roupa para a viagem porque ia estar tudo em saldos acabaria por seguir o conselho que o espanhol lhe deu, e visitar mais uma loja em Picadilly Circus, de onde sairia com umas dezenas de libras a menos. Mas adianto-me. Götgatan começa agora a ficar um bocado mais inclinada, com o gelo torna-se complicado subir. Não circulam carros nesta rua, mas Behrouz não abdica da sua convicção em ser atropelado. A sueca tem de o desviar de um grupo animado que escorrega rua abaixo em cima de páginas arrancadas a uma lista telefónica abandonada. Estamos no caminho certo, portanto. Estão 15 graus negativos na rua. Behrouz tira o casaco, diz que não tem frio. O vinho aquece-o. Já não vê a filha há algum tempo. Por decisão de um tribunal sueco, só pode estar com ela de dois em dois meses, dois dias seguidos, duas horas por dia. Era para a ter encontrado hoje, mas a ex-mulher não apareceu. Guarda na carteira um papel com a morada errada, no outro bolso o telemóvel que há-de despedaçar contra o chão no dia seguinte, quando der pelo erro. Sentado na recepção da pousada, duas horas antes, partilha connosco a sua história, contada em sueco ao homem que viveu um ano em Hudiksvall e num inglês muito limitado a mim. "This!" (com os dedos a agarrar o cabelo penteado para trás) "Dark hair, Iran. Not Europe. You fine. You Europe. Me? Not Europe. So, no baby..." Fomos buscar uma garrafa de vinho à mala. Portugal é o nome que dão às laranjas no Irão. Behrouz lê os nossos nomes e moradas com dificuldade, está habituado a ler ao contrário, da direita para a esquerda. Fala árabe, curdo, turco, persa e sueco. Tem uma pizzaria em Piteå, 700 km a norte de Estocolmo. Deixámo-lo no bar onde a sueca nos levou, a jogar blackjack, e fomos ainda para Gamla Stan. Quando o voltámos a encontrar no dia seguinte, tinha gasto 3000 coroas num telemóvel novo e em presentes para a filha. Ajudou-nos a levar as malas para o metro. Estava "tutto bêim!", repetia contente...
Monday, January 30, 2006
Neva em Hudiksvall. Bastante. Talvez 10 graus negativos lá fora, o que até nem é mau para esta altura do ano. "Está frio, não está?" perguntou-me o barbeiro há bocado, enquanto me cortava o cabelo. Respondi que sim, embora não tenha a certeza absoluta de ter sido este o diálogo. Ainda só falo três palavras em sueco e ele não conhece mais nenhuma língua. O comboio de regresso a Estocolmo parte daqui a duas horas. A internet é grátis aqui na Biblioteca, mas só a posso usar durante dez minutos. Tempo apenas para ler o mail e para um pequeno post. Um miúdo louro espera educadamente que eu me vá embora para poder usar o computador. É melhor ir comer qualquer coisa...
Sunday, January 29, 2006
now the snow has covered everything.
"Então pois lembro! Andava toda a gente muito admirada, os que não eram da neve. Eu não, eu já conhecia o que aquilo era. É que eu sou da terra da neve, sabe, eu nasci em Pinhel e estava habituado a andar descalço na neve e tudo. Mas aqui em Lisboa andava toda a gente na rua, muito admir..." O ruído aumenta, perde-se o sinal e a história do senhor que se lembrava de ter nevado em Lisboa há 52 anos atrás. Nunca foi fácil apanhar rádio na zona de Rio Maior. Acelero um bocado para me aproximar do carro da frente, enquanto procuro uma outra estação. O carro derrapa um bocado, depois equilibra-se, continua agora em frente. Acende-se uma luz no painel de instrumentos, é a estrada que está cheia de gelo. Um flash no espelho distrai-me, acabei de ser fotografado. Não é por excesso de velocidade, de certeza. Circulamos a vinte quilómetros por hora, todos. Uma longa fila que se estende pela antiga "estrada nacional", hoje IC2. A auto-estrada do Norte cortada, a do Atlântico também, aquele é o único caminho para Lisboa, não há fuga possível. Outro flash. No carro atrás de mim tiram-se fotografias. À estrada, à neve, às vinhas cobertas de branco, às mesmas árvores que no Verão ardiam e que agora ficam escondidas, até às casas dispersas à beira da estrada, lado a lado com sucatas e lixeiras várias. Tudo ocultado pela neve. Somos todos turistas num país nórdico estranhamente familiar, hoje. Regressa o sinal da TSF. "Vamos agora falar com este outro senhor... como foi, antigamente, lembra-se?" Perfeitamente, irei eu responder um dia. Foi em Janeiro, demorei quase três horas a chegar a Lisboa. Pelo caminho pensei numa casa de praia que sempre me fascinou desde pequeno, construída ali na marginal da Praia do Pedrogão. Um telhado enorme, com telhas muito escuras, parecia um V virado ao contrário, uma chaminé a deixar adivinhar uma lareira gigantesca. Uma casa arrancada dos Alpes e colocada ali, no meio das outras, para ser troçada e olhada de lado desde que me lembro de lá ir. "Para que serve aquilo ali? Até parece que neva na praia!". Nevou hoje. Devia lá ter ido, era a única fotografia que queria realmente ter tirado. Quase que aposto que a lareira esteve orgulhosamente acesa, o telhado inclinado coberto de neve, finalmente a cumprir o seu fim. A persistência é sempre recompensada, um dia...
Saturday, January 21, 2006
And now - an unsuccessful insurance company call
"- Estou?
- Boa tarde. Sr. José Rino? Daqui fala (...) da sua Companhia de Seguros. Gostava de saber se era possível encontrar-me consigo para esclarecer alguns pormenores do acidente em que esteve envolvido...
- Hoje vai ser complicado, é melhor combinar para a semana...
- São só cinco minutos, posso encontrar-me consigo em qualquer lugar, não há problema.
- Não, isso iria ser complicado. Mas posso combinar consigo na segunda-feira, se quiser.
- Não há problema, não há problema! Diga-me onde está, eu vou ter consigo a qualquer lado!
- Bom, está bem. Agora estou em South Kensington, mas daqui a meia hora devo andar por Picadilly Circus...
- (...)
- Segunda-feira?
- Sim, é melhor segunda-feira..."
- Boa tarde. Sr. José Rino? Daqui fala (...) da sua Companhia de Seguros. Gostava de saber se era possível encontrar-me consigo para esclarecer alguns pormenores do acidente em que esteve envolvido...
- Hoje vai ser complicado, é melhor combinar para a semana...
- São só cinco minutos, posso encontrar-me consigo em qualquer lugar, não há problema.
- Não, isso iria ser complicado. Mas posso combinar consigo na segunda-feira, se quiser.
- Não há problema, não há problema! Diga-me onde está, eu vou ter consigo a qualquer lado!
- Bom, está bem. Agora estou em South Kensington, mas daqui a meia hora devo andar por Picadilly Circus...
- (...)
- Segunda-feira?
- Sim, é melhor segunda-feira..."
Friday, January 20, 2006
And now for something completely different...
"A rescue operation was under way this evening to save a wounded whale in the Thames. The 18ft creature sparked excitement after it was sighted swimming past the Houses of Parliament, send spouts of water 20ft into the air. Hundreds of people lined the river on each side to catch a glimpse. (...) It is the first time this type of whale has been seen in the Thames since records began in 1913. Bagy Tokhtokh, 35, who runs a stall selling souvenirs, said: "It's the first time I've ever seen a whale. I'm from Mongolia and they're not very common there."
[the Evening Standard, Friday night edition - 40p outside Blackfriars underground station]
Sunday, January 15, 2006
Monday, January 09, 2006
Histórias de condutor
"George: I got about fifty-feet out and then suddenly the great beast appeared before me. I tell ya he was ten stories high if he was a foot. As if sensing my presence he gave out a big bellow. I said, "Easy big fella!" And then as I watched him struggling I realized something was obstructing his breathing. From where I was standing I could see directly into the eye of the great fish!
Jerry: Mammal.
George: Whatever."
[Seinfeld, season 5 - The Marine Biologist]
"O outro carro capotou? Bem, quando eu tive o acidente, nem imaginas...", contam-me, três semanas depois de ter sido abalroado por um Renault Mégane preto que capotou após o embate, deu três voltas no ar antes de projectar o semáforo que estava vermelho para o Eixo Norte-Sul, e foi ainda aterrar no capot doutro carro que atravessava o cruzamento à minha frente. As histórias que condutores acidentados me têm contado não ficam atrás das histórias de pescadores, parece-me. Com o passar do tempo ganham dramatismo, efeitos especiais. É preciso explicar bem o susto que se sentiu, não foi uma batidela qualquer... Foi exactamente como nos filmes. "O gasóleo na estrada não incendeia, não se preocupe", garantiu-me um dos primeiros bombeiros a chegar ao local, quando lhe apontei o tanque de combustível destruído. Tal falta de visão não lhe irá retirar, no entanto, o papel que lhe reservo na minha história. Foi ele quem saltou do carro dos bombeiros ainda em andamento, já de extintor na mão, e apagou as chamas que avançavam impiedosamente em direcção ao meu veículo. Tinham sido ateadas por um cigarro aceso, atirado para a estrada minutos antes. Grande plano do cigarro aceso, com o semáforo que há-de ficar vermelho ainda a piscar laranja, no início da cena. Tudo isto é pós-produção, claro. Na minha memória ainda só existem as cenas registadas no local... Mas já há algumas recordações com fundo azul, à espera das animações feitas por computador. "E o outro carro? Capotou depois de bater em ti, ou depois de bater no passeio?" Não faço ideia. Fiquei de costas para o resto do acidente, os faróis apontados para o lado contrário. Ouvia as colisões, mas não via nada. Capotou e deu três voltas no ar, por isso. Foi aterrar em cheio no capot do outro carro. É verdade que ele ficou batido foi do lado direito, mas isso era porque vinha já em duas rodas, as duas da esquerda, a tentar desviar-se do Mégane preto. Os relatos de acidentes automóveis nunca são verdadeiros, apenas se baseiam em histórias verdadeiras...
Jerry: Mammal.
George: Whatever."
[Seinfeld, season 5 - The Marine Biologist]
"O outro carro capotou? Bem, quando eu tive o acidente, nem imaginas...", contam-me, três semanas depois de ter sido abalroado por um Renault Mégane preto que capotou após o embate, deu três voltas no ar antes de projectar o semáforo que estava vermelho para o Eixo Norte-Sul, e foi ainda aterrar no capot doutro carro que atravessava o cruzamento à minha frente. As histórias que condutores acidentados me têm contado não ficam atrás das histórias de pescadores, parece-me. Com o passar do tempo ganham dramatismo, efeitos especiais. É preciso explicar bem o susto que se sentiu, não foi uma batidela qualquer... Foi exactamente como nos filmes. "O gasóleo na estrada não incendeia, não se preocupe", garantiu-me um dos primeiros bombeiros a chegar ao local, quando lhe apontei o tanque de combustível destruído. Tal falta de visão não lhe irá retirar, no entanto, o papel que lhe reservo na minha história. Foi ele quem saltou do carro dos bombeiros ainda em andamento, já de extintor na mão, e apagou as chamas que avançavam impiedosamente em direcção ao meu veículo. Tinham sido ateadas por um cigarro aceso, atirado para a estrada minutos antes. Grande plano do cigarro aceso, com o semáforo que há-de ficar vermelho ainda a piscar laranja, no início da cena. Tudo isto é pós-produção, claro. Na minha memória ainda só existem as cenas registadas no local... Mas já há algumas recordações com fundo azul, à espera das animações feitas por computador. "E o outro carro? Capotou depois de bater em ti, ou depois de bater no passeio?" Não faço ideia. Fiquei de costas para o resto do acidente, os faróis apontados para o lado contrário. Ouvia as colisões, mas não via nada. Capotou e deu três voltas no ar, por isso. Foi aterrar em cheio no capot do outro carro. É verdade que ele ficou batido foi do lado direito, mas isso era porque vinha já em duas rodas, as duas da esquerda, a tentar desviar-se do Mégane preto. Os relatos de acidentes automóveis nunca são verdadeiros, apenas se baseiam em histórias verdadeiras...
Thursday, January 05, 2006
O outro
"Imaginaram que todo o homem é dois homens e que o verdadeiro é o outro. Também imaginaram que os nossos actos projectam o reflexo invertido, de maneira que, se estamos acordados, o outro dorme..." - Jorge Luis Borges, "Os Teólogos" (1949)
Do outro lado do planeta, o RINOBLOG é escrito em japonês, desconfio que por uma rapariga. Viverá em Kobe, ou talvez Osaka, perto do Monte Rokko onde tirou esta fotografia. Aprendeu a ler as 22 cartas do Tarot há mais de um ano, para 2006 o destino reservou-lhe a "roda da fortuna". É tempo de mudança, acredita. E de sonhos. O primeiro do ano interpretou-o assim, com a ajuda de um livro: "those which are necessary for by your remaining, it means to start walking in new thing". A tradução do Babelfish não é grande ajuda... São nove horas de diferença, deve estar agora mesmo a preparar-se para ir almoçar ao café com um amigo. Eu vou dormir. "Living to today, it was very pleasant." Aqui também, RINO. Aqui também...
Do outro lado do planeta, o RINOBLOG é escrito em japonês, desconfio que por uma rapariga. Viverá em Kobe, ou talvez Osaka, perto do Monte Rokko onde tirou esta fotografia. Aprendeu a ler as 22 cartas do Tarot há mais de um ano, para 2006 o destino reservou-lhe a "roda da fortuna". É tempo de mudança, acredita. E de sonhos. O primeiro do ano interpretou-o assim, com a ajuda de um livro: "those which are necessary for by your remaining, it means to start walking in new thing". A tradução do Babelfish não é grande ajuda... São nove horas de diferença, deve estar agora mesmo a preparar-se para ir almoçar ao café com um amigo. Eu vou dormir. "Living to today, it was very pleasant." Aqui também, RINO. Aqui também...
Monday, January 02, 2006
You'll have to stand perfectly still
"- Onde é que há rede, aqui?
- Tu tens vodafone... É aqui em cima onde deixámos os carros, sobe aí para esse muro. Mais para a esquerda... isso. Não te mexas! Agora tens de esperar que ele encontre o sinal.
- (...)
- Então?
- Ninguém atende. Tenho de ligar para o tmn... Posso usar o teu?
- Aqui não dá. Temos de descer. A tmn apanha-se lá em baixo ao lado da casa, onde está aquela árvore, vês?
- Ali ao pé daquela horta?
- Sim. Cuidado, olha aí um sapo. Não o pises.
[Gondramaz, no último dia do ano]
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