Sunday, November 21, 2004

Clothe yourself well for the wind...



E saímos. Do Rossio subimos até à Mouraria. As escadas não são muito íngremes, mas subi-as mais devagar do que o costume, distraído com os graffiti que se multiplicam nas paredes. Num deles julguei reconhecer os mesmos riscos que alguém deixou no meu carro, a mesma marca, a mesma assinatura. Será possível? Ou isto só me terá ocorrido depois, já estava eu no Bairro? Não tenho a certeza. Em conversa com o taxista, na viagem de regresso, recebi apenas um encolher de ombros e uma frase enigmática. Não percebi se me dava razão ou se ignorava por completo aquilo de que lhe falava. Parecia mais concentrado em bater o recorde Incógnito - bolos do Chile que pertence (ainda) ao Sr. M, um taxista que tinha fugido da tropa há muitos anos atrás e que parecia continuar ainda em fuga. "Ouço às vezes umas vozes na cabeça, sabe? Vi lá cada coisa..." Espirro novamente, vou buscar o rolo de papel à cozinha e percebo finalmente como fiquei assim. Entre o Tóquio e o Texas, de telemóvel na mão, o casaco que ficou lá dentro... Pois, deve ter sido isso... Aa... Aaaa... Atchim!

Wednesday, November 17, 2004

O homem voltou! (outra vez)



Sim, quem mais faria um 3º Blog?!
Estratégia de marketing complexa, inspiração budista ou fruto do simples acaso, a terceira encarnação do blog que já se chamou undertheblade apareceu subitamente há dois dias atrás, eram quatro e cinquenta da tarde. Ainda é cedo para fazer prognósticos, mas estamos todos a acompanhar atentamente a situação e a actualizar os links sempre que necessário...
Bem-vindo ! (outra vez)

Sunday, November 14, 2004

São mais dois kalashnikov!


Um com limão, açúcar e absinto a arder.
O outro com laranja, sem absinto, o pacote de açúcar à parte.
Brindemos! À tua! Parabéns !

Thursday, November 11, 2004

STOP 0x000000C5

Da janela do meu gabinete aqui no laboratório vejo a ponte, o eixo Norte-Sul, as torres de Lisboa e o Metropolitan Hotel. Lá em baixo, um parque de estacionamento cheio de ervas daninhas e pedaços de árvores arrancadas pelo vento. Está vazio, por estrear. Melhor assim. É da maneira que não acerto em nenhum carro quando mandar o computador pela janela. A única dúvida que tenho é se o volto a montar, se ponho lá dentro tudo o que já tirei e que está agora em cima da mesa e espalhado pelo chão, para se estatelar completamente lá em baixo, ou se mando uma peça de cada vez. Sempre é o terceiro andar, a escolha não é indiferente. Não percebi ainda qual é o problema dele, mas desisti de tentar. Consegui guardar noutro sítio tudo o que lá tinha, ia copiando enquanto tentava perceber que mensagens de erro eram aquelas, mas a situação complicou-se rapidamente. De um momento para o outro, entrou em coma. Não mais recuperou os sentidos. Tentava reanimá-lo mas ao fim de poucos segundos ficava azul, aparecia uma mensagem de erro qualquer, e desligava-se outra vez. Foi quando o comecei a torturar. Com uma pancada seca abri-o de lado e comecei a tirar coisas. Um leitor de cd's. Um disco rígido. Um módulo de memória. Como o HAL, no filme do Kubrick, ele ia mudando a voz, fazendo barulhos cada vez mais estranhos. Mas nada consegui, a mensagem do ecrã azul era sempre diferente. 0x000000C5, 0x0000000A, 0x00000024. Placa gráfica, IRQ's, page faults. A tortura não funcionava, às minhas perguntas ele respondia com a primeira coisa que lhe ocorria, para ver se eu o deixava em paz. Agora desisti. Nem formatar o consigo. Nada. Lentamente, e com a calma e sangue frio aconselhados nestes momentos supremos de vingança, rodo o trinco para a direita e abro a janela, devagar... É pena já ser noite, gostava de ver o embate lá em baixo...

Tuesday, November 09, 2004

9 de Novembro de 1989

"Só vos dou a nota que querem se me disserem em que dia caiu o Muro", sentenciou o professor de História que desenhava trincheiras no quadro para nos fazer compreender o que tinha sido a Primeira Guerra Mundial. "O muro? Foi há dois anos, foi em Novembro...". Sorriu. "O dia. Quero saber o dia exacto. Procurem jornais, vão à Biblioteca, investiguem...". E lá fomos, eu e o P. M. A Biblioteca ainda ficava dentro da Câmara Municipal, e lá estivemos cerca de hora e meia até encontrar a data, numa edição do jornal Expresso de 1990. "9 de Novembro de 1989. Fixaste?". Fixei.



"- Hallo? Guten nacht...
- Bitte?
- Humm... Charlie Checkpoint, bitte schön?
- Ja. Links und dann (...)"

"- Então, onde fica?
- Esquerda, só percebi esquerda...
- Então, ele não falava inglês? Vou lá eu...
- Não, não! Foi a primeira vez que consegui manter uma conversa inteira em alemão. Não me denuncies agora... Vamos lá!
- Mas lá onde? Para onde?
- Esquerda... Viramos aqui à esquerda... Anda lá..."

Vi o Muro pela primeira vez em Agosto de 1998. Ou o que restava dele. Em InterRail pela Europa durante o Verão, parámos em Berlim apenas dia e meio. Numa Potsdamer-Platz em obras, guardada por gruas gigantescas, uma exposição de fotografias e o Kennedy, com quatro microfones à frente, "Ich bin ein Berliner". Perto da Ostbahnhof, pedimos indicações. Já era de noite quando o encontrámos. Não me pareceu muito alto, estava cheio de graffiti, assinaturas, nomes e datas. Juntámos as nossas, mais o nome de uma banda. Era a nossa contribuição, com 9 anos de atraso... "All free men, wherever they live, are citizens of Berlin..."

Monday, November 08, 2004

O jogo

"Um verdadeiro gentleman não deve mostrar emoção, mesmo que perca tudo o que tenha." - Fiodor Dostoievsky, O Jogador



"Estás a suar ou é impressão minha?" Só me responde depois. Primeiro joga e fica a observar, concentrado na bola e no ângulo que fez com a tabela. Deu efeito a mais, foi a minha sorte. A bola branca passa a milímetros da preta, parada ao lado do buraco como se estivesse à beira de um precipício. Um toque bastava para o jogo acabar. "Impressão tua. O giz, onde está?" O giz está aqui à minha frente, mas só respondo algum tempo depois, concentrado na bola e no ângulo que tenho de fazer para a deixar do outro lado. Só tenho alguma hipótese de ganhar este jogo se ele falhar uma segunda vez. "Não queres ir lá abaixo buscar buscar mais duas cervejas?" Ouço-o descer as escadas de madeira em espiral enquanto imagino trajectórias em cima do pano verde. Isto não está com bom aspecto. Lá em baixo, no bar, o Sr. M. sai de trás do balcão e vai buscar dois copos à arca congeladora, onde normalmente estariam os gelados da Olá. Só serve cerveja nestes copos gelados, para a manter fria. Estamos em Alfama, claro. "O teu jogo não está com muito bom aspecto..." A pressão psicológica e a provocação fazem parte do jogo. Há oito anos atrás, sete jovens carregaram uma vespa, uma BWS, uma target e uma scooter com mochilas e partiram rumo à Lousã, rumo a uma casa restaurada numa aldeia isolada no meio da Serra. A aldeia tinha um único habitante, um pintor. A casa tinha um gira-discos, uma rede para dormir e... uma mesa de snooker. Durante dois dias jogou-se o primeiro torneio de snooker entre todos eles. No meio de uma aldeia isolada pela serra, um torneio de snooker torna-se a coisa mais importante do mundo. É a final desse torneio que é repetida quase todas as semanas nesta mesa, em Alfama, oito anos depois. O campeão em título defende o estatuto contra o segundo classificado. A provocação faz parte do jogo... "Tu também não falhavas essas bolas há oito anos atrás." Ele responde qualquer coisa, mas só o vou ouvir daqui a bocado, quando acabar de jogar. Só vejo uma bola e uma tabela à minha frente. Um ângulo complicado. Tem de ser ali, naquele ponto invisível que só eu vejo... é ali que tenho de acertar. Sustenho a respiração, para não alterar o movimento do taco, e jogo. Não é nada fácil manter o ar de gentleman e não mostrar emoção nenhuma centésimas de segundo depois, quando me apercebo que também vou falhar por milímetros...

Friday, November 05, 2004

Sushi night



"- Assuka, Mahjong...
- E agora malta, vamos para onde?
- Tóquio, claro!
- Pois, tem lógica..."

Monday, November 01, 2004



So many times I've overfloated
So many faces come and go
I played my cards into the sun
and tried to work out
What you are to me

Been here before
A million open doors
Only one would set me free
So I saw it against the wall
And tried to work out
What you are to me, to me...

To me......

Beside my eyes
The answer lies
Something i can't see
Another day
Another way
So they say to me, to me

To me...


Unkle - What are you to me [Never, Never Land, 2003]