Sunday, January 23, 2005
Holga
"Esqueci-me! Esqueci-me da máquina fotográfica! Eihh..." Alfama, a caminho de uma tasca, que o homem fez anos. "Como assim, também te esqueceste? Mas ninguém trouxe uma máquina fotográfica?" Não. Vinte pessoas, entre as quais quatro bloggers e ninguém se tinha lembrado. O único que tinha a casa ali ao cimo da rua teima em tirar fotografias com o telemóvel, é uma complicação para as tirar de lá. "Bom... não faz mal, uso uma antiga para o blog." Um post sem fotos não é a mesma coisa, e aquele eléctrico passa ali todas as noites. Puro acaso, não ter sido tirada ontem, só porque ninguém tinha uma máquina à mão. Ou quase... "Bem... eu trouxe a Holga...". A Holga podia perfeitamente ter sido vendida pelo indiano das flores que apareceu a meio do jantar, ou comprada numa loja dos trezentos. Era tão leve que parecia um brinquedo, uma máquina a fingir. "Mas isto funciona? Onde é que eu carrego para tirar uma foto?" Carrega-se num pequeno botão, ao lado da objectiva, o ruído é quase imperceptível. Depois tem de se rodar o filme com muito cuidado, que ele não pára sozinho. É preciso olhar para uns números pretos numa fita encarnada para perceber quando está pronta a disparar outra vez. "Quanto é que tu deste por isto? Mas tu és doido?" É. "Mandei vir pela net. Vinte e cinco euros." Fico seriamente preocupado quando vejo amigos meus a percorrerem o caminho da loucura, da completa insanidade mental. Preparava-me para lhe bater com a máquina na cabeça, ou em alternativa vender-lhe uma data de inutilidades que tenho lá em casa, quando ouço o aniversariante do outro lado da mesa. "Eh pá, teve azar, o gajo. Essas máquinas são feitas à mão, mas a dele saiu bem, é estanque..." Estou definitivamente rodeado de loucos. "Ahn?" Era verdade. A Holga, ao que parece, é feita pelos mesmos tipos que vendem a Lomo. É feita à mão, em material de fraca qualidade e acaba quase sempre por sair defeituosa. Basta uma folga, ou uma pequena abertura, e a luz entra na câmara que devia ser estanque, manchando o filme fotográfico e criando efeitos de luz estranhos na fotografia. Um sucesso, que o resultado é único para cada máquina. Menos aquela. Aquela saiu perfeita. "Deixa ver se eu percebo. Deste cinco contos por uma máquina de plástico e estás chateado porque ela funciona bem?". "Sim..." Não me ocorreu na altura, mas apercebo-me agora que se lhe tivesse batido com a máquina na cabeça, ele se calhar ficava com o problema resolvido...
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