13 de Junho de 1655. Christiaan Huygens escreve a J. Wallis, professor em Oxford, comunicando-lhe uma descoberta feita com o seu novo telescópio. O anúncio aparece no final da carta, sob a forma de um anagrama: Admouere oculis distantia sidera nostris, uuuuuu cccrrhnbqx. Uma mensagem em código, uma precaução muito comum dos astrónomos naquela altura, depois do que aconteceu com Galileu. Descodificado, diz o seguinte, em latim: Saturno luna sua circunducitur diebus sexdecim horis quatuor. "A lua de Saturno gira em seu redor em 16 dias e 4 horas". Tinha sido descoberta Titã, como lhe chamaram duzentos anos mais tarde, em honra dos velhos deuses gregos. A maior das luas de Saturno.
Hoje. Sessenta e sete minutos, é o tempo que demora a informação transmitida pela sonda Cassini a chegar até nós. Cassini orbita Titã, a seis mil quilómetros de altitude. Mas é apenas uma intermediária. A sua companheira, a sonda Huygens, mergulha na atmosfera de Titã a mais de vinte mil quilómetros por hora. Quer pousar, tocar a superfície gelada da lua de Saturno. Se tudo correr bem, nunca teremos tocado tão longe. "Já abriu o paraquedas. Já disse: estou aqui" Em directo de Darmstadt, centro de controlo da Agência Espacial Europeia, o Abrupto adianta-se à CNN e confirma a recepção dos primeiros dados. "Palmas. Começou a chegar. Viva!" Rejubilo também eu, incapaz de me afastar do monitor do computador. A mil e trezentos milhões de quilómetros da Terra, Huygens prepara-se para enviar mais dados. Tem bateria para sete horas, consegue tirar fotografias e registar sons, detectar trovoadas, medir a temperatura, a velocidade do vento, a composição química da atmosfera... Uma atmosfera que terá sido parecida com a da Terra, nos primórdios. Antes do aparecimento da vida. Agora é aguardar...
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