Wednesday, February 16, 2005

Quioto

Olho para dentro do Minipreço, do outro lado da rua, e conto pelo menos seis. Quatro senhoras idosas e dois homens. Todos com pequenos papéis na mão, em fila indiana à frente do quiosque dos jornais. Pelo menos dez, quinze minutos até todos eles verificarem se ganharam alguma coisa para logo a seguir, é certinho, gastarem o dinheiro todo a comprar mais uma dezena de totolotos, totobolas, lotarias, raspadinhas e qualquer coisa de euro-milhões. Olho para a direita. Mais à frente na rua, o condutor de um opel corsa azul discute de braços abertos com o "Bigodes", o polícia que quando não está na tasca do Sr. Silva, ali na esquina, se entretém a multar os carros em segunda fila. Oito ou nove pessoas assistem à discussão, de pé, no passeio. Quando lá chegar já a rua estará bloqueada, não vale a pena tentar chegar ao quiosque ao lado do restaurante do Sr. Manuel. Viro à esquerda, passo ao lado do Mercado, sigo em direcção à Alameda. Entro no quiosque da família indiana, quase ao fundo da rua, para sair logo a seguir, mal vejo a pilha de bilhetes de lotaria que um senhor baixinho de óculos e camisa branca entrega a tremer ao senhor indiano mais velho. O mais novo não está, ia demorar também uns bons minutos até conseguir o meu jornal. Atravesso a Almirante Reis, mas o quiosque em frente ao antigo Cinema Império já não tem o Público. Continuo, obstinado. Do outro lado da Alameda, em frente ao banco Totta, consigo finalmente comprar o jornal. Ainda assim tive de acelerar o passo para passar à frente de um senhora com um ar suspeito. Tinha de certeza a mala cheia de raspadinhas para trocar. O jornal debaixo do braço, o Metro logo ali ao lado, o carro estacionado na rua que pode até já estar cortada ao trânsito, se o "Bigodes" tiver chamado reforços...

Parece que entra hoje em vigor o Protocolo de Quioto. Quase toda a gente, com a excepção de quem mais contribui para o problema, compromete-se a partir de hoje a poluir menos, para combater as alterações climáticas. Acho bem, apesar de suspeitar que o nosso esforço de pouco vale quando quem mais polui vira a cara para o lado. Ainda assim, hoje, eu vim de Metro para o trabalho! Devo dizer que é bastante mais fácil ler o jornal calmamente sentado na carruagem do Metro do que tentar ler qualquer coisa enquanto espero que o semáforo fique verde...

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