
Oito anos depois, três deles regressam à casa, com mantimentos e lenha suficiente para aguentar três dias. Acompanham-nos um número ainda indeterminado de pessoas, com garrafas de champanhe e de vodka, convencidas que ali se vai celebrar o início do novo ano. Puro engano. Naquele sítio o tempo nunca passa. Não há telemóveis, não há carros, a televisão só consegue apanhar dois canais, mas muito mal. Desconfio que também os relógios se confundem com o ar da Serra. Talvez seja possível ver o fogo de artifício de aldeias vizinhas, mas nem isso é certo. Sabemos apenas que hoje à noite, quando subirmos a Serra, será ainda dois mil e quatro. Que o Sol irá desaparecer do lado direito da casa e nascer do lado esquerdo, e que nós estaremos lá, em silêncio, a apreciar. E que ao fim do terceiro dia, quando finalmente descermos a Serra, será dois mil e cinco. E que se alguma coisa tiver mudado, terá sido dentro de nós seguramente, e por decisão nossa. Porque tudo o resto irá permanecer igual. Sempre assim foi. Principalmente ali...


Aguardo agora, concentrado, depois de resumir tudo a duas alternativas que examino com cuidado. A bifurcação ocorre no tempo, não no espaço. Resta-me esperar. Dizem-me que a terra tremeu um dia destes. Não dei por nada. Se é verdade que tudo isto é um enorme labirinto, a única solução seria escolher sempre o mesmo caminho. Virar sempre para o mesmo sítio. Suspeito que não existe labirinto nenhum. Que o labirinto não é mais que uma ideia, uma esperança. Uma alternativa ao caos, no qual estaríamos sempre perdidos. Um labirinto, pelo contrário, terá sempre uma saída. E bifurcações. Dir-me-ão que será impossível, que não se podem percorrer dois caminhos ao mesmo tempo. Não estão a pensar correctamente, irei responder... estão apenas a ser lógicos. Quando chegar a bifurcação, serei dois. Nada disto será verdade, correcto, mas isto é o que será recordado depois. Haverá quem se aperceba que algo está errado durante o processo, talvez me veja desfocado, como a personagem do