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Oito anos depois, três deles regressam à casa, com mantimentos e lenha suficiente para aguentar três dias. Acompanham-nos um número ainda indeterminado de pessoas, com garrafas de champanhe e de vodka, convencidas que ali se vai celebrar o início do novo ano. Puro engano. Naquele sítio o tempo nunca passa. Não há telemóveis, não há carros, a televisão só consegue apanhar dois canais, mas muito mal. Desconfio que também os relógios se confundem com o ar da Serra. Talvez seja possível ver o fogo de artifício de aldeias vizinhas, mas nem isso é certo. Sabemos apenas que hoje à noite, quando subirmos a Serra, será ainda dois mil e quatro. Que o Sol irá desaparecer do lado direito da casa e nascer do lado esquerdo, e que nós estaremos lá, em silêncio, a apreciar. E que ao fim do terceiro dia, quando finalmente descermos a Serra, será dois mil e cinco. E que se alguma coisa tiver mudado, terá sido dentro de nós seguramente, e por decisão nossa. Porque tudo o resto irá permanecer igual. Sempre assim foi. Principalmente ali...