Thursday, February 19, 2004


Voice of the Fire é um livro de contos, todos contados na primeira pessoa. São doze, no total. Doze narradores diferentes, doze histórias de épocas distintas. Um único elemento em comum: todas elas se passam no que é hoje Northampton. O primeiro dos contos ouvimo-lo da boca de um rapaz que é expulso da sua tribo em 4000 AC. O último data de 1995 e é narrado pelo próprio autor. Pelo meio, encontramos histórias de solidão e traição de um fiscal romano (290 DC), ou de dois amantes que foram queimados por bruxaria em 1705. Nada de muito prometedor, à primeira vista. A surpresa vem com a leitura:

"A-hind of hill, ways off to sun-set-down, is sky come like as fire, and walk I up in way of this, all hard of breath, where is grass colding on I's feet and wetting they." Hob's Hog 4000 BC

O rapaz abandonado pela tribo em 4000 AC conta a sua história naquilo que deveria ser o inglês de 4000 AC... os adjectivos contam-se pelos dedos das mãos, os verbos não se conjugam ainda. A construção das frases é rudimentar e o vocabulário limitado. Cada frase tem de ser lida uma e outra vez, decifrada, aprendida. Uma linguagem de metáforas primitivas: "make hot waters out I's face" só mais tarde seria substituído pelo verbo cry. O início é difícil, mas a linguagem vai evoluindo ao longo do livro. Em 2500 AC aparecem as primeiras "willages". Em Novembro de 1064 já se celebra o "All Hallow's Eve", que havia de degenerar em Halloween. As palavras evoluem de conto para conto. As histórias também. O rapaz abandonado é traído e queimado vivo em 4000 AC. Dois mil anos depois a sua história é contada pelos anciãos da aldeia aos mais novos, mais ou menos da forma que a ouviram contada pelos antepassados. No tempo dos romanos é já uma lenda recordada apenas pelos druidas. Em 1100 uma mulher sonha com essa mesma história e anuncia-a como prenúncio de vitória antes de uma batalha. Ela própria será santificada séculos mais tarde. Em 1931 a história sobrevive apenas como uma expressão, um ditado popular cuja origem se perdeu. Em 1995 ela é imaginada a partir desse ditado e serve de inspiração para escrever um livro sobre a história do Homem, vista de Northampton ao longo dos séculos...

Alan Moore normalmente escreve livros de BD. Alguns deles passaram a filme e muito se perdeu nesse processo. É sempre assim...

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