Monday, February 09, 2004
O círculo do meio representa o Sol. A lua está do outro lado, à entrada da área, perto da baliza (um anel circular feito de pedra, com menos de meio metro de diâmetro). Nascimento e morte. O jogo começa e é uma vida o que vemos em campo: a bola é a alma, jogada aos pontapés, não pode nunca cair no chão. Toda a gente sabe o que tem de acontecer. A alma tem de viajar de Oriente para Ocidente, do Sol para a Lua, tem de nascer no círculo do meio e morrer dentro da baliza em honra de Ah Kinchil, o deus Sol. Depois começa tudo outra vez, porque o jogo de Tlachtli representa a vida e os Aztecas acreditam na reincarnação...
O nevoeiro era tanto que não se conseguia ver nada. Sentia-me mal por não ter levado o cachecol, era como um soldado sem farda, não se vai assim para um campo de batalha. É uma falta de respeito pelo adversário, que precisa de ver a nossa cor, precisa de reconhecer o opositor. Eu não conseguia ver o azul deles, mas conseguia ouvi-los. Era de resto tudo o que conseguia fazer... ouvir. O guarda-redes da minha equipa estava ali, a poucos metros, longe do jogo que decorria na outra ponta do campo. Olhava para todo o lado, não fosse a bola aparecer de repente, sem aviso. Só devia consegui ouvir, como eu. Ao meu lado, um idoso com uma visão que a idade não lhe permitia exaltava-se com empurrões e pontapés que só ele conseguia ver. Um outro inclinava a cabeça para esquerda, depois para a direita, algo se havia de mexer naquela bruma. De repente gritaram todos GOLO, e eu também, e pulei também, que grande jogada que era, já se adivinhavam os nomes dos protagonistas, depois se vê na televisão como foi. Os cânticos pararam e sentámo-nos todos. Um miúdo com um rádio da coca-cola finalmente fez-se ouvir: "Foi à barra, não entrou". O velhote não deu parte fraca: "Bateu na barra, mas quando bateu no chão, estava para lá da linha que eu vi". Fizemos-lhe a vontade e gritámos todos "ladrão" para o árbitro...
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