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[Compêndio de Física para o 4º, 5º e 6º anos dos liceus, por Prof. Álvaro Machado; 1944]
Acordo com o despertador. Desligo-o e volto a adormecer. Não me recordo de nada disto, mas foi o que aconteceu. É a única explicação possível, que eu tenho a certeza de o ter programado ontem à noite. Acordo outra vez, olho para o relógio. É tarde. A partir de hoje é sempre tarde, vou estar sempre atrasado. Mandam agora os relógios, o ritmo mudou de um dia para o outro. Isto que sinto deve ser a inércia, mais forte do que o costume, que o estado de repouso já durava há muito tempo. Resisto, inutilmente. Adormeço. Sonho com uma ilha deserta, com o topo da cratera de um vulcão, sonho que o tempo não corre ainda desta maneira. Acordo outra vez. É tarde, bem sei, não preciso de olhar para o relógio. Estou atrasado. A partir de hoje vai ser sempre assim. Levanto-me e preparo-me para repetir algo que já não fazia há muito tempo. Com o comando da televisão na mão, despejo os cereais para uma taça amarela pequena, depois o leite. Como devagar, sonolento, mudando os canais de três em três segundos. Nunca encontro nada para ver na televisão, enquanto tomo o pequeno-almoço...
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