"somos comparáveis ao feiticeiro que tece um labirinto e que se vê forçado a errar nele até ao fim dos seus dias" - Jorge Luís Borges, Artificios (1944)
Subimos e viramos à esquerda, depois à direita. Depois voltamos para trás e paramos. Só por uns instantes. "O Wim Wenders andou a filmar por aqui. Aquelas escadas ali, vês?". Esquerda outra vez. Estamos a descer. O percurso repete-se, mesmo que não seja de hoje. Ao fim de pouco tempo todas estas ruas se tornam familiares. As memórias também. "Já aqui estivemos, não já?". Difícil de dizer. O labirinto muda com o tempo, quando não mudamos nós. Um quer começar de novo, esquecer o caminho que fez até chegar aqui. O outro já tentou, mas voltou a encontrar as pistas que tinha deixado há anos atrás, ali à espera dele. O terceiro olha em volta, desconfiado que isto que sente ser intuição não é mais que uma ilusão causada pelo tempo. Ao fim de alguns anos estas memórias tornam-se familiares, as histórias também. "E agora, vamos para onde?". Difícil de adivinhar. Mas o labirinto só muda se não estivermos parados. Seguimos em frente, e subimos outra vez. Da janela aberta de uma casa ouve-se Portishead. Às vezes tudo o que é preciso é uma pequena pista...
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