Thursday, November 11, 2004
STOP 0x000000C5
Da janela do meu gabinete aqui no laboratório vejo a ponte, o eixo Norte-Sul, as torres de Lisboa e o Metropolitan Hotel. Lá em baixo, um parque de estacionamento cheio de ervas daninhas e pedaços de árvores arrancadas pelo vento. Está vazio, por estrear. Melhor assim. É da maneira que não acerto em nenhum carro quando mandar o computador pela janela. A única dúvida que tenho é se o volto a montar, se ponho lá dentro tudo o que já tirei e que está agora em cima da mesa e espalhado pelo chão, para se estatelar completamente lá em baixo, ou se mando uma peça de cada vez. Sempre é o terceiro andar, a escolha não é indiferente. Não percebi ainda qual é o problema dele, mas desisti de tentar. Consegui guardar noutro sítio tudo o que lá tinha, ia copiando enquanto tentava perceber que mensagens de erro eram aquelas, mas a situação complicou-se rapidamente. De um momento para o outro, entrou em coma. Não mais recuperou os sentidos. Tentava reanimá-lo mas ao fim de poucos segundos ficava azul, aparecia uma mensagem de erro qualquer, e desligava-se outra vez. Foi quando o comecei a torturar. Com uma pancada seca abri-o de lado e comecei a tirar coisas. Um leitor de cd's. Um disco rígido. Um módulo de memória. Como o HAL, no filme do Kubrick, ele ia mudando a voz, fazendo barulhos cada vez mais estranhos. Mas nada consegui, a mensagem do ecrã azul era sempre diferente. 0x000000C5, 0x0000000A, 0x00000024. Placa gráfica, IRQ's, page faults. A tortura não funcionava, às minhas perguntas ele respondia com a primeira coisa que lhe ocorria, para ver se eu o deixava em paz. Agora desisti. Nem formatar o consigo. Nada. Lentamente, e com a calma e sangue frio aconselhados nestes momentos supremos de vingança, rodo o trinco para a direita e abro a janela, devagar... É pena já ser noite, gostava de ver o embate lá em baixo...
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