Clothe yourself well for the wind...
E saímos. Do Rossio subimos até à Mouraria. As escadas não são muito íngremes, mas subi-as mais devagar do que o costume, distraído com os graffiti que se multiplicam nas paredes. Num deles julguei reconhecer os mesmos riscos que alguém deixou no meu carro, a mesma marca, a mesma assinatura. Será possível? Ou isto só me terá ocorrido depois, já estava eu no Bairro? Não tenho a certeza. Em conversa com o taxista, na viagem de regresso, recebi apenas um encolher de ombros e uma frase enigmática. Não percebi se me dava razão ou se ignorava por completo aquilo de que lhe falava. Parecia mais concentrado em bater o recorde Incógnito - bolos do Chile que pertence (ainda) ao Sr. M, um taxista que tinha fugido da tropa há muitos anos atrás e que parecia continuar ainda em fuga. "Ouço às vezes umas vozes na cabeça, sabe? Vi lá cada coisa..." Espirro novamente, vou buscar o rolo de papel à cozinha e percebo finalmente como fiquei assim. Entre o Tóquio e o Texas, de telemóvel na mão, o casaco que ficou lá dentro... Pois, deve ter sido isso... Aa... Aaaa... Atchim!
Sunday, November 21, 2004
Wednesday, November 17, 2004
O homem voltou! (outra vez)
Sim, quem mais faria um 3º Blog?!
Estratégia de marketing complexa, inspiração budista ou fruto do simples acaso, a terceira encarnação do blog que já se chamou undertheblade apareceu subitamente há dois dias atrás, eram quatro e cinquenta da tarde. Ainda é cedo para fazer prognósticos, mas estamos todos a acompanhar atentamente a situação e a actualizar os links sempre que necessário...
Bem-vindo pá! (outra vez)
Sunday, November 14, 2004
São mais dois kalashnikov!
Thursday, November 11, 2004
STOP 0x000000C5
Da janela do meu gabinete aqui no laboratório vejo a ponte, o eixo Norte-Sul, as torres de Lisboa e o Metropolitan Hotel. Lá em baixo, um parque de estacionamento cheio de ervas daninhas e pedaços de árvores arrancadas pelo vento. Está vazio, por estrear. Melhor assim. É da maneira que não acerto em nenhum carro quando mandar o computador pela janela. A única dúvida que tenho é se o volto a montar, se ponho lá dentro tudo o que já tirei e que está agora em cima da mesa e espalhado pelo chão, para se estatelar completamente lá em baixo, ou se mando uma peça de cada vez. Sempre é o terceiro andar, a escolha não é indiferente. Não percebi ainda qual é o problema dele, mas desisti de tentar. Consegui guardar noutro sítio tudo o que lá tinha, ia copiando enquanto tentava perceber que mensagens de erro eram aquelas, mas a situação complicou-se rapidamente. De um momento para o outro, entrou em coma. Não mais recuperou os sentidos. Tentava reanimá-lo mas ao fim de poucos segundos ficava azul, aparecia uma mensagem de erro qualquer, e desligava-se outra vez. Foi quando o comecei a torturar. Com uma pancada seca abri-o de lado e comecei a tirar coisas. Um leitor de cd's. Um disco rígido. Um módulo de memória. Como o HAL, no filme do Kubrick, ele ia mudando a voz, fazendo barulhos cada vez mais estranhos. Mas nada consegui, a mensagem do ecrã azul era sempre diferente. 0x000000C5, 0x0000000A, 0x00000024. Placa gráfica, IRQ's, page faults. A tortura não funcionava, às minhas perguntas ele respondia com a primeira coisa que lhe ocorria, para ver se eu o deixava em paz. Agora desisti. Nem formatar o consigo. Nada. Lentamente, e com a calma e sangue frio aconselhados nestes momentos supremos de vingança, rodo o trinco para a direita e abro a janela, devagar... É pena já ser noite, gostava de ver o embate lá em baixo...
Tuesday, November 09, 2004
9 de Novembro de 1989
"Só vos dou a nota que querem se me disserem em que dia caiu o Muro", sentenciou o professor de História que desenhava trincheiras no quadro para nos fazer compreender o que tinha sido a Primeira Guerra Mundial. "O muro? Foi há dois anos, foi em Novembro...". Sorriu. "O dia. Quero saber o dia exacto. Procurem jornais, vão à Biblioteca, investiguem...". E lá fomos, eu e o P. M. A Biblioteca ainda ficava dentro da Câmara Municipal, e lá estivemos cerca de hora e meia até encontrar a data, numa edição do jornal Expresso de 1990. "9 de Novembro de 1989. Fixaste?". Fixei.
"- Hallo? Guten nacht...
- Bitte?
- Humm... Charlie Checkpoint, bitte schön?
- Ja. Links und dann (...)"
"- Então, onde fica?
- Esquerda, só percebi esquerda...
- Então, ele não falava inglês? Vou lá eu...
- Não, não! Foi a primeira vez que consegui manter uma conversa inteira em alemão. Não me denuncies agora... Vamos lá!
- Mas lá onde? Para onde?
- Esquerda... Viramos aqui à esquerda... Anda lá..."
Vi o Muro pela primeira vez em Agosto de 1998. Ou o que restava dele. Em InterRail pela Europa durante o Verão, parámos em Berlim apenas dia e meio. Numa Potsdamer-Platz em obras, guardada por gruas gigantescas, uma exposição de fotografias e o Kennedy, com quatro microfones à frente, "Ich bin ein Berliner". Perto da Ostbahnhof, pedimos indicações. Já era de noite quando o encontrámos. Não me pareceu muito alto, estava cheio de graffiti, assinaturas, nomes e datas. Juntámos as nossas, mais o nome de uma banda. Era a nossa contribuição, com 9 anos de atraso... "All free men, wherever they live, are citizens of Berlin..."
"- Hallo? Guten nacht...
- Bitte?
- Humm... Charlie Checkpoint, bitte schön?
- Ja. Links und dann (...)"
"- Então, onde fica?
- Esquerda, só percebi esquerda...
- Então, ele não falava inglês? Vou lá eu...
- Não, não! Foi a primeira vez que consegui manter uma conversa inteira em alemão. Não me denuncies agora... Vamos lá!
- Mas lá onde? Para onde?
- Esquerda... Viramos aqui à esquerda... Anda lá..."
Vi o Muro pela primeira vez em Agosto de 1998. Ou o que restava dele. Em InterRail pela Europa durante o Verão, parámos em Berlim apenas dia e meio. Numa Potsdamer-Platz em obras, guardada por gruas gigantescas, uma exposição de fotografias e o Kennedy, com quatro microfones à frente, "Ich bin ein Berliner". Perto da Ostbahnhof, pedimos indicações. Já era de noite quando o encontrámos. Não me pareceu muito alto, estava cheio de graffiti, assinaturas, nomes e datas. Juntámos as nossas, mais o nome de uma banda. Era a nossa contribuição, com 9 anos de atraso... "All free men, wherever they live, are citizens of Berlin..."
Monday, November 08, 2004
O jogo
"Um verdadeiro gentleman não deve mostrar emoção, mesmo que perca tudo o que tenha." - Fiodor Dostoievsky, O Jogador
"Estás a suar ou é impressão minha?" Só me responde depois. Primeiro joga e fica a observar, concentrado na bola e no ângulo que fez com a tabela. Deu efeito a mais, foi a minha sorte. A bola branca passa a milímetros da preta, parada ao lado do buraco como se estivesse à beira de um precipício. Um toque bastava para o jogo acabar. "Impressão tua. O giz, onde está?" O giz está aqui à minha frente, mas só respondo algum tempo depois, concentrado na bola e no ângulo que tenho de fazer para a deixar do outro lado. Só tenho alguma hipótese de ganhar este jogo se ele falhar uma segunda vez. "Não queres ir lá abaixo buscar buscar mais duas cervejas?" Ouço-o descer as escadas de madeira em espiral enquanto imagino trajectórias em cima do pano verde. Isto não está com bom aspecto. Lá em baixo, no bar, o Sr. M. sai de trás do balcão e vai buscar dois copos à arca congeladora, onde normalmente estariam os gelados da Olá. Só serve cerveja nestes copos gelados, para a manter fria. Estamos em Alfama, claro. "O teu jogo não está com muito bom aspecto..." A pressão psicológica e a provocação fazem parte do jogo. Há oito anos atrás, sete jovens carregaram uma vespa, uma BWS, uma target e uma scooter com mochilas e partiram rumo à Lousã, rumo a uma casa restaurada numa aldeia isolada no meio da Serra. A aldeia tinha um único habitante, um pintor. A casa tinha um gira-discos, uma rede para dormir e... uma mesa de snooker. Durante dois dias jogou-se o primeiro torneio de snooker entre todos eles. No meio de uma aldeia isolada pela serra, um torneio de snooker torna-se a coisa mais importante do mundo. É a final desse torneio que é repetida quase todas as semanas nesta mesa, em Alfama, oito anos depois. O campeão em título defende o estatuto contra o segundo classificado. A provocação faz parte do jogo... "Tu também não falhavas essas bolas há oito anos atrás." Ele responde qualquer coisa, mas só o vou ouvir daqui a bocado, quando acabar de jogar. Só vejo uma bola e uma tabela à minha frente. Um ângulo complicado. Tem de ser ali, naquele ponto invisível que só eu vejo... é ali que tenho de acertar. Sustenho a respiração, para não alterar o movimento do taco, e jogo. Não é nada fácil manter o ar de gentleman e não mostrar emoção nenhuma centésimas de segundo depois, quando me apercebo que também vou falhar por milímetros...
"Estás a suar ou é impressão minha?" Só me responde depois. Primeiro joga e fica a observar, concentrado na bola e no ângulo que fez com a tabela. Deu efeito a mais, foi a minha sorte. A bola branca passa a milímetros da preta, parada ao lado do buraco como se estivesse à beira de um precipício. Um toque bastava para o jogo acabar. "Impressão tua. O giz, onde está?" O giz está aqui à minha frente, mas só respondo algum tempo depois, concentrado na bola e no ângulo que tenho de fazer para a deixar do outro lado. Só tenho alguma hipótese de ganhar este jogo se ele falhar uma segunda vez. "Não queres ir lá abaixo buscar buscar mais duas cervejas?" Ouço-o descer as escadas de madeira em espiral enquanto imagino trajectórias em cima do pano verde. Isto não está com bom aspecto. Lá em baixo, no bar, o Sr. M. sai de trás do balcão e vai buscar dois copos à arca congeladora, onde normalmente estariam os gelados da Olá. Só serve cerveja nestes copos gelados, para a manter fria. Estamos em Alfama, claro. "O teu jogo não está com muito bom aspecto..." A pressão psicológica e a provocação fazem parte do jogo. Há oito anos atrás, sete jovens carregaram uma vespa, uma BWS, uma target e uma scooter com mochilas e partiram rumo à Lousã, rumo a uma casa restaurada numa aldeia isolada no meio da Serra. A aldeia tinha um único habitante, um pintor. A casa tinha um gira-discos, uma rede para dormir e... uma mesa de snooker. Durante dois dias jogou-se o primeiro torneio de snooker entre todos eles. No meio de uma aldeia isolada pela serra, um torneio de snooker torna-se a coisa mais importante do mundo. É a final desse torneio que é repetida quase todas as semanas nesta mesa, em Alfama, oito anos depois. O campeão em título defende o estatuto contra o segundo classificado. A provocação faz parte do jogo... "Tu também não falhavas essas bolas há oito anos atrás." Ele responde qualquer coisa, mas só o vou ouvir daqui a bocado, quando acabar de jogar. Só vejo uma bola e uma tabela à minha frente. Um ângulo complicado. Tem de ser ali, naquele ponto invisível que só eu vejo... é ali que tenho de acertar. Sustenho a respiração, para não alterar o movimento do taco, e jogo. Não é nada fácil manter o ar de gentleman e não mostrar emoção nenhuma centésimas de segundo depois, quando me apercebo que também vou falhar por milímetros...
Friday, November 05, 2004
Monday, November 01, 2004
So many times I've overfloated
So many faces come and go
I played my cards into the sun
and tried to work out
What you are to me
Been here before
A million open doors
Only one would set me free
So I saw it against the wall
And tried to work out
What you are to me, to me...
To me......
Beside my eyes
The answer lies
Something i can't see
Another day
Another way
So they say to me, to me
To me...
Unkle - What are you to me [Never, Never Land, 2003]
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