Há quatro anos atrás naufragaram dois barcos de borracha ao largo da costa de Sagres, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas. A história (que com o tempo foi ganhando contornos surreais) ainda hoje é lembrada pelos pescadores locais como "a coisa mais estranha" que terão presenciado na vida. Mas não terá sido a única. "De há seis anos para cá é sempre a mesma coisa, acontece sempre algo de estranho", assegura uma das vendedoras de perceves da vila. "Uma vez apareceu aí um jipe daqueles antigos... andava tão devagar e fazia tanto barulho que até metia medo à gente. Só os estrangeiros se aproximavam". O filho mais velho do dono da única bomba de gasolina da vila, que prefere manter o anonimato, diz ter conhecido os ocupantes: "Eram três moços, um até vinha a dormir, disseram-me que vinham de longe, tinham demorado mais de oito horas a chegar cá. Ainda ali está a marca do pneu naquele pedaço de terra, pode ir ver." Este ano ainda não terá acontecido nada de anormal, mas tudo poderá mudar dentro de pouco tempo, garante um dos pescadores mais velhos. "O vento está a mudar, os animais começam a portar-se de forma estranha. Não devem faltar mais de duas, três semanas. Eles vão aparecer aí outra vez, isso é certo..."
"Este é o ponto mais ocidental, não só da Europa, mas também de todo o mundo habitado. (...) Artemidorus (que diz ter visitado o sítio) compara-o a um barco; e diz ele que três pequenas ilhas ajudaram a dar-lhe forma, ocupando uma destas ilhas a posição da proa, e as outras duas, onde se pode ancorar com segurança, a posição dos dois ferros de âncora. Quanto a Heracles, diz ele que não há um único templo em todo o Promotorium Sacrum, nem sequer um altar dedicado a ele ou a qualquer outro deus, mas apenas pedras espalhadas por vários sítios em grupos de três ou quatro. (...) E não é permitido, diz ele, oferecer sacrifícios nem permanecer nesse lugar à noite pois dizem os nativos que os deuses o ocupam àquelas horas. Os que o vão visitar pernoitam numa aldeia próxima, e depois, de dia, entram ali levando água, já que o lugar não a tem. (...) Dizem ainda os nativos, segundo Poseidonius, que nestas regiões ao longo da costa do oceano, o Sol é maior quando se põe, e que quando o faz se ouve crepitar o oceano para o extinguir, porque ele mergulha nas suas profundezas."
[Estrabão (séc. I) - livro III, capítulo 1- traduzido da versão inglesa;
orto-fotografia digital disponibilizada por Sistema Nacional de Informação Geográfica]
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