Thursday, August 26, 2004

Conversa de Barbearia

"- Então isto, como vai ser?
- Curto. Não muito, mas curto.
(pausa)
- Você não é de cá, pois não?
- Não. Cheguei na segunda. Só cá estou por uns dias.
- Então... e faz o quê? Estuda?
- Uhmm... sim. Sou (engulo em seco) cientista.
(pausa)
- Cientista?
- Sim. (já arrependido)
- Sabe, ainda ontem passou aqui um ovni.
- Um ovni...
- Sim, uma luzes no céu. O meu cunhado viu-as. Sabe alguma coisa disso?
- ...

Monday, August 23, 2004

PT Comunicações. Netcabo. Ministério das Finanças. Via Verde. EDP.
Uma carta para o director de uma empresa que desconheço, mas que deve ter existido aqui em casa.
Mais um restaurante chinês que serve comida para fora. Telepizza. Publicidade variada. Uma carta do banco.

Troco os livros lidos por outros que ainda não li, não mexo em mais nada nas malas.
Tomo um banho e vou-me embora outra vez. O comboio para o Algarve parte daqui a uma hora.
Tudo o resto pode esperar mais uma semana...

Friday, August 20, 2004

Wednesday, August 18, 2004

Açores

"O Público, ainda tem?". São três da tarde. Ou então duas, que eu não tenho a certeza de ter acertado o relógio. O tempo aqui, de resto, corre a um ritmo diferente. "Só tenho o de ontem. O de hoje ainda não chegou, o avião atrasou-se. Venha cá daqui a um quarto de hora". Estamos dentro do hipermercado Modelo, na Angra do Heroísmo (aqui não se diz em Angra, diz-se na Angra). Dizem-me que foi aqui nos Açores que o hipermercado teve de mudar o nome de Continente para Modelo. Por causa da piada. Já ninguém aguentava ouvir que não era preciso ir ao Continente comprar leite, que aqui nos Açores também o havia. Resolvo esperar pelo jornal. Na loja ao lado da tabacaria, vendem-se televisões e rádios. E em todas as televisões colocadas em montras, aqui ou em qualquer rua da cidade, o que se mostra é sempre o mesmo. A tourada. Que não é bem uma tourada. É mais uma largada de touros. Tapam-se portas e janelas com placas de madeira, fecha-se a rua ao trânsito e largam-se os touros, que correm atrás de todos os que lá querem estar até se cansarem. Às vezes também os largam na praia. Isto acontece cada vez que há festas. E aqui há festas de Maio a Outubro, quase todos os dias. É que cada povoação tem a sua semana de festas. Até "vêm gentes de outras ilhas para as festas, quando não vamos nós lá". Por decreto regional, as festas só podem começar a partir das seis da tarde. Aqui trabalha-se até às cinco, e se a festa começasse mais cedo, toda a gente faltava ao trabalho, ou saía mais cedo. E se a festa calha ser na povoação de onde se é oriundo, já se sabe. Uma semana de baixa por motivo de doença. A festa, hoje, é na Agualva. Fica entre os Biscoitos e a Praia da Vitória. "Isto hoje vai ser de arromba, vêm gentes de outras ilhas e tudo, vai tudo para lá!". Pois claro. Vamos nós também.
É meia noite. Ou então onze, tenho de mudar a hora ao relógio. O carro que alugámos tem o farol do lado direito solto. Com os máximos ligados a estrada é iluminada aos solavancos, o efeito não deixa de ser engraçado. "Vai devagar, que pode aparecer uma vaca de repente no meio da estrada". Já não estranho. Aqui pode encontrar-se de tudo no meio da estrada. Nas cidades, aliás, não se estaciona. Os carros param à nossa frente e ali ficam. Toda a noite, se for preciso. Só não podem é parar dois no mesmo sítio, que a estrada ficava cortada. Em Agualva, a festa ainda dura. No pequeno largo da Igreja leiloam-se bolos. Olho em volta e todas as casas têm ainda os taipais. Por aqui passou o touro, horas antes. Na varanda das casas, para além da bandeira portuguesa, mais duas. A dos Açores e a do país que acolheu o emigrante açoreano. Canadá ou Estados Unidos, quase sempre. Entretanto começa o baile. Não se vê ninguém da nossa idade. "Isso a malta jovem está ali na discoteca. É atrás do centro recreativo". É preciso perguntar onde fica, quem não sabe não encontra. Atrás do centro, num terreno descampado pouco maior que o largo da igreja, construíram de propósito uma "discoteca" para os jovens "abanarem o capacete". Toda em madeira, de fora só se vê uma cerca alta. Lá dentro é a surpresa. Dois bares, mesas e bancos (os bancos são troncos grossos enterrados no chão e aos quais foi pregado um assento redondo de madeira) e até uma pista de dança coberta, com cabine de DJ e tudo. Totalmente construída em madeira, improvisada, uma arquitectura tosca, mas genuína. É visível o empenho de toda a aldeia na festa. Na pista de dança, ouve-se Beyoncé. Ou algo parecido. Não se encontra só gente da aldeia. É impossível não reparar nos americanos, de chapéu de basebol na cabeça e roupas desportivas. Gigantes, mais altos e com mais do dobro do peso do que os outros, nós. A base das Lages fica a poucos quilómetros. "Hey Jessica, gimme a beer, will ya?" A Jessica não o ouve, ou não o percebe. Provavelmente nem se chama Jessica, que ela é aqui da aldeia. Peço-lhe eu uma imperial, que eles podem ficar violentos, se não lhes dão o que querem. "You're my man! Thanks pal!" E de um trago, bebe-a toda. A festa continuou pela noite fora. Eram sete da manhã quando regressámos a Angra. Ou então seis...

Saturday, August 14, 2004

ritual

Olho à volta e tento contar quantos somos. Mais de setenta, seguramente. O vento é muito forte, ninguém se preparou para o frio. Agachados, sentados nas rochas ou corajosamente de pé, a meio metro da ravina, todos aguardam. A primeira impressão é sempre de incredulidade. "Parece tirado daquele filme... parecemos os anjos na praia..." Quase ninguém fala, de resto. Limitam-se a olhar, à  espera. À escuta, também. Talvez hoje se consiga ouvir qualquer coisa. Há quem venha todos os dias. Nós só o fizemos no último. É o nosso ritual de despedida. O último pôr do sol de Sagres, na ponta extrema do Cabo de São Vicente...



"Dizem ainda os nativos, segundo Poseidonius, que nestas regiões ao longo da costa do oceano, o Sol é maior quando se põe, e que quando o faz se ouve crepitar o oceano para o extinguir, porque ele mergulha nas suas profundezas."
[Estrabão (séc. I) - livro III, capítulo 1]

Thursday, August 12, 2004

vento


Não há vento em Sagres. Também não chove em Sagres. Compro o jornal e nenhuma das notí­cias parece verí­dica. Algo de estranho se passa, mas não é aqui, de certeza. Em Sagres tudo parece normal. Rotineiro, até. E só isto chega para me deixar intrigado. É que Sagres nunca foi rotineiro. Nem normal. O vento sempre foi forte em Sagres. Omnipresente. Tenho andado desconfiado, nestes últimos dias. Algo se passa...

Sunday, August 08, 2004

A caminho...



Só há realmente um caminho para chegar a Sagres. Pode não ser o mais rápido, ou até o mais seguro, mas uma peregrinação é também isto. O caminho que se escolhe não é menos importante que o destino, e para Sagres, repito, há só um. O da Costa Vicentina. Deixamos para trás o ritmo da cidade, as auto-estradas e vias rápidas. Não há pressa de chegar, que a paisagem é única e a estrada acidentada. Cada vez mais estreita e acidentada, à medida que nos aproximamos do destino. Cada vez melhor. O ano passado não pude seguir pela estrada de sempre. Estava em chamas, a Serra de Monchique, a estrada cortada pelo fogo. Hoje vou voltar a passar por lá. Não sei se faço bem...

Saturday, August 07, 2004


"A good compilation tape is hard to do and takes ages longer than it might seem. You gotta kick off with a killer, to hold the attention. Then you have to take it up a notch, but not blow your wad, so maybe cool it off a notch, and you can't put the same artist twice on the tape, except if some subtle point or lesson or theme involved, and even then not the two of them in a row (...) and... oh, there are a lot of rules. Anyway, I worked hard at this one..."
[Rob, in High Fidelity]

Friday, August 06, 2004


É hoje!
O Colectivo de Dijais Não Basta Sermos Bonitos Temos Que Ser Duros estreia-se no Purex!
Prometem emoção em estado puro, projecções laser e poesia retroprojectada.
Tudo parte de um grandioso espectáculo multimédia, que começa não se sabe bem a que horas...
É ir o mais cedo possível, que ao contrário do que é indicado no cartaz, em caso de lotação esgotada não se irá vender cerveja pela janela. Ao que parece, o Purex não tem janelas...

Thursday, August 05, 2004

"Quem é Morais"

A notícia caiu como uma bomba, aqui no laboratório. Pairava a suspeita entre alguns de nós que algo de estranho se passava, é verdade. Mas ninguém estava à espera disto. Nuno Morais, um jovem investigador português e colega de laboratório que julgávamos estar em Cambridge, é afinal a mais recente aposta do Chelsea! No seu blog, aliás, Nuno começava a dar algumas pistas para o que viria a acontecer... O contacto inicial com o clube terá sido feito no início do mês de Julho, em pleno Euro2004. Em entrevista a uma rádio inglesa, Nuno fala de futebol e da selecção, mas não comenta uma eventual permanência no Chelsea. Os recados para Mourinho, no entanto, não se fizeram esperar, chegando Nuno a expressar algum descontentamento com a indecisão do treinador em chamá-lo para o clube. A recente conversa com Abramovich (que não terá deixado grande impressão no jogador) parece ter sido decisiva para o rumo dos acontecimentos e hoje Nuno assegura que, apesar da "falta de disponibilidade" para escrever, não tem "qualquer problema anímico (bem pelo contrário)". Conseguirá ele conciliar a carreira de investigador com a de jogador de futebol? Aguardamos todos novidades de Inglaterra....