Saturday, November 05, 2005

A guerra química

"The wind was favourable and we discharged a very poisonous gas, a mixture of chlorine and phosgene, against the enemy lines... Not a single shot was fired... The attack as a complete success." - Otto Hahn, reporting from the Eastern Front in mid June 1915

O alarme soou ontem pouco passava das oito da noite. Era a campaínha da minha porta, que tocava sem parar. Do lado de fora, muito vermelhos e ofegantes, um casal de vizinhos com ar assustado esperava-me, a senhora mal conseguia respirar. "Querem-me matar! Ai, que me falta o ar! Eu morro, eu qualquer dia apareço morta!" Traziam com eles um cheiro estranho, pareceu-me amoníaco, ou um diluente qualquer. "Venha ver, venha! Fica aí, mulher, enquanto eu desço com o senhor administrador. Venha, venha..." O cheiro ia ficando mais forte à medida que o elevador descia. Parámos no primeiro andar. "Não respire, não respire que isto é um veneno!" Abro a porta do elevador e sinto logo o efeito. Ardem-me as olhos, o cheiro a amoníaco é intenso, talvez seja algo mais forte ainda. "Se calhar andam a exagerar na limpeza das escadas..." A vizinha do andar de cima aparece entretanto, com um lenço a cobrir-lhe a cara. "Não é limpeza, isto não é da limpeza! É bruxaria! Querem-nos matar! Olhe, veja aqui!" Espalhadas pelo chão, pequenas gotas que parecem ser de água acumulam-se perto das portas, começam a descer as escadas e desaparecem depois subitamente. "Isto é de propósito! Já não é a primeira vez! E eu sei bem quem é!" Sabe, mas não diz. Não é preciso. Só ali estava a facção A do prédio, especialistas em contra-informação e guerrilha de má-língua. A facção B é a única com capacidade de produzir armas químicas, é de uma delas o cabeleireiro do prédio. Digo-lhes que vou tratar do assunto, e todos voltam para casa. A próxima reunião de condomínio vai ter como ponto único a aceitação da Convenção de Hague...

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