Sunday, September 25, 2005
Os taxistas
"Trinta euros, foi o que lhe contaram? A um casal de brasileiros, da Baixa ao aeroporto? Isso não é nada... Quando andavam cá os americanos eram oitenta, às vezes cem euros. Da Praça do Comércio até Belém, cem euros! E era o que aparecia no taxímetro e tudo... Como? Então, há aceleradores aqui para o taxímetro, não sabia?" Um negócio que correu mal, um restaurante que faliu, um emprego que não aparece, os motivos são vários e não poucas vezes misteriosos. "Oh amigo, se eu lhe contasse... isto a vida dá muitas voltas..." Ser taxista nunca é uma vocação. Foi sempre o destino que os colocou ali, uma mão invisível que parece persegui-los ainda, enquanto aceleram pelas ruas estreitas de Lisboa. "Tropa? O seu colega aí atrás é tropa? Também já fui tropa, sabe? Vi cada coisa que você nem queira saber... Olhe, por causa disso é que agora sou taxista. Nem costumo falar disso." Nem sempre é fácil fazer um taxista falar. Mas até os mais novos têm histórias para contar, mesmo tendo começado há pouco tempo. "Eh pá, e eu então já andava desempregado há meses, o cota tinha lá o táxi e eu prontos... comecei a fazer o dia. Também já andei de noite, mas uma vez no aeroporto apontaram-me uma pistola e eu tá quieto... vim-me logo embora, tás a ver?" Os que andam nisto há mais tempo acabam por ganhar outras rotinas, outras vidas também... "Olhe, tenho só de fazer aqui um telefonema, vou ter de mentir um bocadinho, pode ser? «Tou, querida? Sou eu. Não... afinal vou chegar mais tarde. Tenho aqui um cliente para Vila Franca, coisa para vinte, trinta minutos, ok?» Já está. Desculpe lá, sabe o que é, tenho ali uma cliente habitual que sai agora às três do Elefante, eu costumo levá-la sempre, está a ver... Deixo-o onde, ali ao pé do mercado?" Às vezes são demasiado curtas, as viagens. "Vai apanhar o avião para onde? Amsterdão? Tenho lá uma filha, sabe? Andei lá nas obras, mas como não tinha os papéis, apanharam-me e mandaram-me embora. Deixei lá a rapariga grávida, uma holandesa lindíssima, loura, de olho azul. Nunca mais pude voltar. Recebi uma carta uma vez, mas depois mais nada... Foi há vinte e seis anos, isto... Ora cá estamos. Deixo-o aqui nas Partidas?"
Friday, September 23, 2005
"Haber envejecido en tantos espejos..." (Borges, Elegía, 1963)
Sagres. Leiria. As passagens de ano, os aniversários. 2002. 2001. 1997. O carnaval deste ano. O carnaval dos últimos quatro anos. O Arts. São mais de quinhentas, as fotografias. Algumas já tinha, outras vejo agora pela primeira vez. Estavam no computador de um amigo e couberam todas num CD. Trouxe-as comigo para Lisboa...
A caminho de Gondramaz (Serra da Lousã) em 1996. "Podemos tirar uma fotografia a si e às ovelhas?" Podemos. Um assobio e o cão junta-as todas atrás de nós. Chama também a mulher, que andava a apanhar lenha. "É para a SIC?" Era como se fosse. Não costumam passar estranhos por aquela estrada, nunca ninguém quis fotografar as ovelhas. Tira o chapéu e chega-se mais para o lado da mulher, muito direitos os dois, que a ocasião é solene. "Mas são jornalistas, não é? Quando sai a foto?"
Saiu hoje. Oito anos depois...
Wednesday, September 21, 2005
A base de dados (ano e meio depois)
Hoje de manhã, aqui na rua...
"- Como é que sabia que o táxi era meu?
- Você trouxe-me uma vez até casa, disse-me que era irmão aqui do dono do restaurante...
- Oh homem, você tem boa memória! Há quanto tempo foi isso?
- Um ano e meio... talvez mais...
- E lembrava-se ainda do carro?
- Não, mas um táxi parado em segunda fila aqui em frente ao restaurante... era muita coincidência se não fosse seu..."
"- Como é que sabia que o táxi era meu?
- Você trouxe-me uma vez até casa, disse-me que era irmão aqui do dono do restaurante...
- Oh homem, você tem boa memória! Há quanto tempo foi isso?
- Um ano e meio... talvez mais...
- E lembrava-se ainda do carro?
- Não, mas um táxi parado em segunda fila aqui em frente ao restaurante... era muita coincidência se não fosse seu..."
Saturday, September 17, 2005
The Birthday Party [part two]
É mais logo, no Cinema Paraíso, em Leiria, e só vai acabar quando aparecerem uns senhores fardados de azul a dizer que "não senhor, não pode ser, já passa da hora, têm mesmo de fechar..."
No som estará o Dijai Red, que fez também o cartaz para a festa (obrigado pá!) e que deve estar nesta altura à procura de cd's para levar. O Otto sou eu, pois...
Friday, September 09, 2005
The strangest thing...
"The film opens and closes with a voice stating from a speaker "Dick Laurent is dead". We won't ever know more about it...
It happened to me in real life. One day, in the morning, someone rang on my door and said "Dick Laurent is dead." I didn't see him, I've never found out who did say this message. I don't know any Dick Laurent. A mistake, maybe, but this occurrence obsessed me for a long time..."
[David Lynch's Lost Highway interview for italian movie magazine Ciak, April 1997]
"- Ó shor administrador, chegou ali uma coisa estranha no correio... Só pode ser para si..."
A coisa estranha estava em exposição em cima do frigorífico, encostada a uns tupperwares e caixas de gelado Carte d'Or vazias. Uma pequena folha de papel com a fotografia do Rui Costa com o equipamento do Milan colada no canto inferior direito (tirada da revista Maria), um recorte de um jornal do Lidl agrafado na parte de cima, a apregoar "Mais barato!", e escrito em maiúsculas, mais ou menos a meio e com uma caneta preta, os dizeres "chulo bosta". Do outro lado, uns rabiscos com a mesma caneta preta e umas linhas azuis do que parece ser um EEG, ou o registo de um sismógrafo qualquer...
"- Isto estava na nossa caixa de correio...
- Ah pois... pá, se calhar é de um dos vizinhos... não deve estar contente com o shor administrador... isto ainda deu trabalho... o que é que vais fazer com isso?
- Vai já para o blog, claro... Faço como o David Lynch, que cada vez que lhe acontecia algo de estranho, ele metia isso num filme. Sempre eram mais pessoas depois a tentar perceber o que era aquilo..."
It happened to me in real life. One day, in the morning, someone rang on my door and said "Dick Laurent is dead." I didn't see him, I've never found out who did say this message. I don't know any Dick Laurent. A mistake, maybe, but this occurrence obsessed me for a long time..."
[David Lynch's Lost Highway interview for italian movie magazine Ciak, April 1997]
"- Ó shor administrador, chegou ali uma coisa estranha no correio... Só pode ser para si..."
A coisa estranha estava em exposição em cima do frigorífico, encostada a uns tupperwares e caixas de gelado Carte d'Or vazias. Uma pequena folha de papel com a fotografia do Rui Costa com o equipamento do Milan colada no canto inferior direito (tirada da revista Maria), um recorte de um jornal do Lidl agrafado na parte de cima, a apregoar "Mais barato!", e escrito em maiúsculas, mais ou menos a meio e com uma caneta preta, os dizeres "chulo bosta". Do outro lado, uns rabiscos com a mesma caneta preta e umas linhas azuis do que parece ser um EEG, ou o registo de um sismógrafo qualquer...
"- Isto estava na nossa caixa de correio...
- Ah pois... pá, se calhar é de um dos vizinhos... não deve estar contente com o shor administrador... isto ainda deu trabalho... o que é que vais fazer com isso?
- Vai já para o blog, claro... Faço como o David Lynch, que cada vez que lhe acontecia algo de estranho, ele metia isso num filme. Sempre eram mais pessoas depois a tentar perceber o que era aquilo..."
Friday, September 02, 2005
entretanto, do paralelo 33º...
Subscribe to:
Posts (Atom)