Saturday, September 08, 2012
The importance of being... Rino
Em Randazzo um carabinieri mandou-me parar ao final da noite, não sei bem por que razão. Havia pelo menos três à escolha, achei que excesso de velocidade poderia ser a mais evidente. Mas não cheguei a descobrir. Mal lhe coloquei a carta de condução nas mãos, mandou-me seguir, nem quis ver o resto dos documentos.
No hotel em Catania mudaram-nos de quarto quando me queixei que não conseguia trancar a porta. Em vez de ficarmos no rés-do-chão atrás da piscina e do palco com música ao vivo, fomos para o terceiro andar, com vista para a cidade. O melhor quarto do hotel, pelo mesmo preço, e ainda ofereceram a internet.
Em Triscina, a meio do jantar, o rapaz que servia à mesa veio dizer-me que o Benfica tinha acabado de marcar o segundo golo ao Nacional. Foi procurar o resultado à internet quando reparou que o meu telemóvel tinha ficado sem bateria quando ainda estava 0-0.
Podia ser só hospitalidade siciliana. Mas desconfio que não. Rino é demasiado parecido com Riina, acho que não quiseram correr riscos. Na última noite em Catania, tínhamos à nossa espera um cartão assinado pelo Director do Hotel e uma pequena prenda, "a testimony of our friendship", para a "Family Rino". Na reserva de hotel e no cartão de crédito no entanto, não é Rino o apelido que aparece. Não era preciso, eles sabiam.
Saturday, September 01, 2012
La trattoria
- Per primo piatto ci sono gli spaghetti al ragù, fruti di mare o alla norma.
Numa trattoria não há menu. Nem lista de preços. Sentamo-nos e pergunta-nos o que queremos como primeiro prato. Podemos decidir se o esparguete é lungo ou corto e o que bebemos. E é tudo. Vai-se embora com o bloco de notas onde escreveu "ragu" e ficamos à espera. Na televisão passam notícias locais, ou pelo menos assim parece. Está sem som, o ecrã é demasiado pequeno para se perceber o que lá está. À esquerda da televisão uma garrafa de azeite. À direita, uma Estátua da Liberdade fosforescente. Um dos filhos deve ter emigrado para a América. Não certamente este que se aproxima com dois pratos pequenos.
- Buon appetito!
É o antipasti, que não pedimos. Não era preciso pedir, faz parte da refeição. Antipasti, primo, secondo, contorni e dessert, nunca nada menos que isto. Numa trattoria não há menu, come-se a refeição completa. Não há máquina registadora nem balcão. Há uma secretária que parece ter sido tirada de um escritório e onde se senta de vez em quando. Em cima da mesa está o comando da televisão, o bloco de notas, um livro de recibos, uma moldura com uma foto que não consigo ver daqui, um copo com esferográficas e um tabuleiro com uma lata azul e uma escova. Deve ser para tirar as nódoas. Atrás da mesa, um calendário, alguns diplomas emoldurados, um letreiro a anunciar a azul o Domingo como dia de descanso. No canto inferior direito, o comando do ar condicionado, quatro interruptores (um para cada lâmpada no tecto) e o regulador da ventoínha. Um autêntico centro de controlo. Do outro lado da porta que dá para o corredor, uma fotografia de João Paulo II. Chega o primeiro prato. Tira a tampa do recipiente metálico onde vem o queijo ralado e faz um gesto para percebermos que tem de ser espalhado por cima do esparguete.
- Formaggio.
À nossa direita acabam a refeição. Perguntam que fotografia é aquela, mesmo ao lado deles. Um comboio a vapor a passar em frente a um templo grego. É Selinunte, nos anos 60. Estivemos lá ontem. A linha de comboio já não existe, claro. Nem a linha de comboio nem a mosca que andava de mesa em mesa. O mais velho dos filhos que o ajuda a servir às mesas (são dois) perseguiu-a com uma raquete de ténis de praia, conseguiu apanhá-la com grande estrondo.
- Esecuzione!
Foi mesmo em frente à foto de J. Giovanni um "ladro buono" do início do século, talvez aparentado, um dos que roubava aos ricos para dar aos pobres. Fala dele com orgulho à mesa de turistas suíços, foi alguém importante. Um "ladro" mas dos bons.
- Pesce o carne?
Podíamos escolher o que vinha no segundo prato. Ainda não o tínhamos acabado e já vinha a fruta, uma fatia de melão. E antes que pedíssemos café, fez questão que provássemos um doce típico siciliano, oferta da casa. O café veio depois, o filho mais novo trouxe-o da máquina ao fundo do corredor, ali parece ser já a sala de estar da casa onde vivem.
Não pedimos a conta. Levantámo-nos e fomos ter com ele à secretária, onde nos esperava. Pegou numa das esferográficas, escreveu um número no bloco de notas e virou-o na nossa direcção. No final, levantou-se e apertou-me a mão olhando para o chão. Numa trattoria siciliana a tradição é tudo.
Sunday, August 26, 2012
Tempo
Some believe, or have believed, that the tree was as large as the story tells us it was, that the interior of the trunk as since decayed away; leaving a number of separate pieces, each large enough to form a big tree. [The Chestnut tree of Mount Etna, detailed account of the tree, its state and its surroundings, written by Wm. Rushton on June 29, 1871]
Em 1780 mediram o perímetro do tronco com uma corda, tinha 58 metros. O tronco ficou soterrado entretanto, o que se vê hoje são 5 árvores que partilham as mesmas raízes e que corresponderão à copa, a mesma que se diz ter abrigado 100 cavaleiros num dia de tempestade. Il Castagno dei Cento Cavalli cresce na encosta do Etna, nunca foi atingido por lava. Tem entre 2000 a 4000 anos, é o castanheiro mais velho do mundo, o ser vivo mais antigo que conheço. Pode ser tão antigo quanto as pirâmides no Egipto. E este ano, tal como nos milénios anteriores, tem castanhas. O Tempo não interessa, o importante é recomeçar.
RinoBlog volta hoje ao activo, depois de um restauro que destruiu os links e o contador de visitantes mas trouxe de volta todas as fotos aos posts antigos. O último post tinha sido escrito há quatro anos, aqui na Sicília. Parece que foi ontem.
Location:
Catania, Sicilia
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