Sunday, April 07, 2013

Ground zero, 6 years later

 

2006

"I was here for 5 days. We stayed in St. Paul's Chapel, over there. We were helping the rescue workers, supporting them, giving them food, and new boots. Cause the boots would melt from all the heat, you know? The pile of rubble was 12 stories high, and it was like matches all piled up, ready to ignite, or break. The fire under that pile burned for days and days."

- F., 70 e poucos anos, no seu primeiro regresso ao ground zero, cinco anos e uma semana depois de lá ter estado pela última vez.

2013

"8h26, I'm on the 98th floor of the North Tower. At that same time American flight 11 deviates from its course and heads south to New York. I get called to the 35th floor a couple of minutes later. That's where I am at 8h46. I feel the building shake. "What the hell is this?" I was chief security so I go outside and I hear on my radio "A plane hit the building! A plane hit the building!" I thought some guy on a Cessna or Falcon had hit the tower. I only saw the smoke, I couldn't see the size of the hole, you see? "Ok, no big deal, we'll solve this. Let's evacuate those floors and put down the fire". So I set up an evacuation route and start directing people. I didn't know what was happening, you were seeing it all on TV, but I had no idea what was going on. I remember many things, but not by the right order. Many people were murdered that day. That's what's written on their death certificates. Homicide. I went back to the tower with the firemen, we were first responders. We went up until we couldn't go up anymore and then we started to go down floor by floor. "Is there anyone on this floor?" When we got to the 9th floor, the firemen told me to go out. There were no offices between the 9th floor and the ground floor, you see? It was just equipment, those were technical floors. So I get out and I head north. I go past the north bridge and I see the chief of police. I was on my way to him when I get thrown out in the air. The North Tower had just collapsed on us. I get up, I can't breathe. I couldn't see. Swear to God, I couldn't see anything, thick dust, rubble, everywhere. I start to walk very slowly, trying to get a hold on something, like when you are on a dark room. Then I start to see a faint red light, blinking. Very faint, it was dimmer than a candle. It was a fire truck's light bar, you know that very bright red light? I was standing a palm away from it, I could barely see it. That light saved my life."

- V. 70 e poucos anos, a poucos metros do local onde estava a Torre Norte há 11 anos e meio atrás. Atrás dele e com a mesma altura da Torre Norte ergue-se hoje o 1 WTC, a Freedom Tower. À sua frente, outra sobrevivente, a última a ser retirada com vida dos escombros e que haveria ainda de resistir ao furacão Sandy e a um relâmpago que a cortou ao meio. A survivor tree.

Saturday, September 08, 2012

The importance of being... Rino



Em Randazzo um carabinieri mandou-me parar ao final da noite, não sei bem por que razão. Havia pelo menos três à escolha, achei que excesso de velocidade poderia ser a mais evidente. Mas não cheguei a descobrir. Mal lhe coloquei a carta de condução nas mãos, mandou-me seguir, nem quis ver o resto dos documentos.
No hotel em Catania mudaram-nos de quarto quando me queixei que não conseguia trancar a porta. Em vez de ficarmos no rés-do-chão atrás da piscina e do palco com música ao vivo, fomos para o terceiro andar, com vista para a cidade. O melhor quarto do hotel, pelo mesmo preço, e ainda ofereceram a internet.
Em Triscina, a meio do jantar, o rapaz que servia à mesa veio dizer-me que o Benfica tinha acabado de marcar o segundo golo ao Nacional. Foi procurar o resultado à internet quando reparou que o meu telemóvel tinha ficado sem bateria quando ainda estava 0-0.

Podia ser só hospitalidade siciliana. Mas desconfio que não. Rino é demasiado parecido com Riina, acho que não quiseram correr riscos. Na última noite em Catania, tínhamos à nossa espera um cartão assinado pelo Director do Hotel e uma pequena prenda, "a testimony of our friendship", para a "Family Rino". Na reserva de hotel e no cartão de crédito no entanto, não é Rino o apelido que aparece. Não era preciso, eles sabiam.

Saturday, September 01, 2012

La trattoria


- Per primo piatto ci sono gli spaghetti al ragù, fruti di mare o alla norma.
Numa trattoria não há menu. Nem lista de preços. Sentamo-nos e pergunta-nos o que queremos como primeiro prato. Podemos decidir se o esparguete é lungo ou corto e o que bebemos. E é tudo. Vai-se embora com o bloco de notas onde escreveu "ragu" e ficamos à espera. Na televisão passam notícias locais, ou pelo menos assim parece. Está sem som, o ecrã é demasiado pequeno para se perceber o que lá está. À esquerda da televisão uma garrafa de azeite. À direita, uma Estátua da Liberdade fosforescente. Um dos filhos deve ter emigrado para a América. Não certamente este que se aproxima com dois pratos pequenos.
- Buon appetito!
É o antipasti, que não pedimos. Não era preciso pedir, faz parte da refeição. Antipasti, primo, secondo, contorni e dessert, nunca nada menos que isto. Numa trattoria não há menu, come-se a refeição completa. Não há máquina registadora nem balcão. Há uma secretária que parece ter sido tirada de um escritório e onde se senta de vez em quando. Em cima da mesa está o comando da televisão, o bloco de notas, um livro de recibos, uma moldura com uma foto que não consigo ver daqui, um copo com esferográficas e um tabuleiro com uma lata azul e uma escova. Deve ser para tirar as nódoas. Atrás da mesa, um calendário, alguns diplomas emoldurados, um letreiro a anunciar a azul o Domingo como dia de descanso. No canto inferior direito, o comando do ar condicionado, quatro interruptores (um para cada lâmpada no tecto) e o regulador da ventoínha. Um autêntico centro de controlo. Do outro lado da porta que dá para o corredor, uma fotografia de João Paulo II. Chega o primeiro prato. Tira a tampa do recipiente metálico onde vem o queijo ralado e faz um gesto para percebermos que tem de ser espalhado por cima do esparguete.
- Formaggio.
À nossa direita acabam a refeição. Perguntam que fotografia é aquela, mesmo ao lado deles. Um comboio a vapor a passar em frente a um templo grego. É Selinunte, nos anos 60. Estivemos lá ontem. A linha de comboio já não existe, claro. Nem a linha de comboio nem a mosca que andava de mesa em mesa. O mais velho dos filhos que o ajuda a servir às mesas (são dois) perseguiu-a com uma raquete de ténis de praia, conseguiu apanhá-la com grande estrondo.
- Esecuzione!
Foi mesmo em frente à foto de J. Giovanni um "ladro buono" do início do século, talvez aparentado, um dos que roubava aos ricos para dar aos pobres. Fala dele com orgulho à mesa de turistas suíços, foi alguém importante. Um "ladro" mas dos bons.
- Pesce o carne?
Podíamos escolher o que vinha no segundo prato. Ainda não o tínhamos acabado e já vinha a fruta, uma fatia de melão. E antes que pedíssemos café, fez questão que provássemos um doce típico siciliano, oferta da casa. O café veio depois, o filho mais novo trouxe-o da máquina ao fundo do corredor, ali parece ser já a sala de estar da casa onde vivem. Não pedimos a conta. Levantámo-nos e fomos ter com ele à secretária, onde nos esperava. Pegou numa das esferográficas, escreveu um número no bloco de notas e virou-o na nossa direcção. No final, levantou-se e apertou-me a mão olhando para o chão. Numa trattoria siciliana a tradição é tudo.

Sunday, August 26, 2012

Tempo


Some believe, or have believed, that the tree was as large as the story tells us it was, that the interior of the trunk as since decayed away; leaving a number of separate pieces, each large enough to form a big tree. [The Chestnut tree of Mount Etna, detailed account of the tree, its state and its surroundings, written by Wm. Rushton on June 29, 1871]

Em 1780 mediram o perímetro do tronco com uma corda, tinha 58 metros. O tronco ficou soterrado entretanto, o que se vê hoje são 5 árvores que partilham as mesmas raízes e que corresponderão à copa, a mesma que se diz ter abrigado 100 cavaleiros num dia de tempestade. Il Castagno dei Cento Cavalli cresce na encosta do Etna, nunca foi atingido por lava. Tem entre 2000 a 4000 anos, é o castanheiro mais velho do mundo, o ser vivo mais antigo que conheço. Pode ser tão antigo quanto as pirâmides no Egipto. E este ano, tal como nos milénios anteriores, tem castanhas. O Tempo não interessa, o importante é recomeçar.

RinoBlog volta hoje ao activo, depois de um restauro que destruiu os links e o contador de visitantes mas trouxe de volta todas as fotos aos posts antigos. O último post tinha sido escrito há quatro anos, aqui na Sicília. Parece que foi ontem.

Saturday, April 26, 2008

Rinusblog, circa 2000 AD


Desapareceu a decoração de fundo com a pouco usual barra lateral de altura fixa. Perderam-se imagens e representações artísticas dos episódios épicos narrados, especialmente as datadas do período mais arcaico. Permanece ainda a inscrição do lado direito com o que presumimos ser uma referência para comunicação (note-se a presença do símbolo @), embora certamente inactiva há muito. Fascinante no entanto a existência e aparentemente bom funcionamento de um oráculo que adivinha a origem dos visitantes (ao fundo, logo depois do contador) e que constitui assim o único elemento ainda activo nestas ruínas...

RinoBlog volta ao activo... mal acabem os trabalhos de recuperação.

Tuesday, December 25, 2007

Amazing Grace


[David Fonseca recording on location(s), no studio overdubbing]

Saturday, November 17, 2007

Monday, September 03, 2007

A rentrée

"Ai estava a dormir, desculpe lá estar a tocar a esta hora... Sabe o que é? É que o senhor G. de lá de baixo quer instalar uma antena... Ele paga tudo, não se preocupe, mas eu disse-lhe que era melhor falar com o senhor administrador. Com você, pronto. Então vinha-lhe dizer que ele precisa de falar consigo. É só para saber, porque ele diz que paga tudo, não precisa de se preocupar. Ele tem de fazer uns buracos lá em baixo, por causa dos fios, mas fica tudo por conta dele. Pronto, era só para você saber que ele queria falar consigo. Adeuzinho e desculpe lá tê-lo acordado."

[O vizinho da frente, depois de ter tocado à campaínha cinco vezes e ter batido na porta como se o prédio estivesse a arder. Passavam poucos minutos das oito da manhã]

Saturday, August 25, 2007

Matalascañas



Tapas, bocadillos de jamón, cruz campo. As praias cheias de lixo, mais sujas que as nossas. As tardes passadas a ler o El Pais, na areia. A calle em frente à varanda onde jantávamos, sempre cheia de gente. Os cafés onde é preciso falar alto. ¡Hola! ¡Hasta Luego! A praia vazia antes das onze da manhã. As esplanadas que enchem às quatro da tarde, depois da siesta. As tardes passadas a dormir, na areia. A rapariga do Turismo que dizia que sim, que talvez encontrássemos uma casa para alquilar. Mas o melhor era perguntar na Frasquita...

Wednesday, August 15, 2007

"ALALLLLLLLAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
É assim que acordo todos os dias às 5am.
"

- K Man, em Istambul

Thursday, August 09, 2007

It takes fighting day and night
To make such a good thing die


[Old Flame, The Arcade Fire (live at Amsterdam)]